quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Jogo Interior: 2º tempo


Roberto Lira

Na pausa realizada para organizar as idéias, com o intuito de continuarmos os comentários sobre o Jogo Interior, recebemos algumas mensagens, de amigos palaneses, as quais se tornaram oportunos “nutrientes” para a continuidade desta escrevinhação.
Encerramos o primeiro tempo do Jogo Interior reiterando a necessidade de aprendermos a arte de perceber esse Jogo e que isso requer uma mente não dicotômica, transparente e serena! Sem pretendermos indicar um “como” essa aprendizagem ocorre, vamos apenas destacar alguns aspectos a serem refletidos.    
Pensamos que tranquilizar a mente pode ser o começo dessa aprendizagem. Uma mente calma, sem o alvoroço e o rebuliço provocados por memes/pensamentos de aflição, de angústia, de incertezas e de medos, permite nos prepararmos para agir adequadamente nas vivências.  Preocupações com o passado, que já não pode mais ser mudado, ansiedades frente às incertezas do futuro não nos permite viver no aqui e no agora, onde de fato as coisas são vividas. Referente a esse passado e futuro, Gallwey assinala que “os fantasmas do passado e os monstros do futuro desaparecem quando toda a energia consciente é empregada para compreender o presente”.
Outro ponto a ser considerado é o aqui e o agora. Observamos que os memes/pensamentos, que configuram cada ego e presidem o seu viver, estão sempre a afastar o ser humano do aqui e do agora. Entendemos que o “senhor” ego, por viver apegado as coisas e querendo controlar todas as situações, é o responsável por nossa insatisfação, por nossa infelicidade e por tudo o que nos impede de atravessarmos para a “outra margem do rio”. Desse modo, surge a questão:  
Como neutralizar a ação do ego no Jogo Interior?
Para Gallwey, o caminho é simplesmente “deixar acontecer”, que ele traduz como “espontaneidade”. Essa espontaneidade é a essência do eu, que atua sem se importar com os resultados das suas ações. Para ilustrar sua indicação, Gallwey recorre à linguagem do carma ioga, onde isso é chamado de “ação sem ligação com os frutos da ação”. Ele lembra que “ironicamente, quando esse estado é alcançado, os resultados obtidos são os melhores possíveis”.  
Edgar Morin, grande pensador contemporâneo, pai da teoria da complexidade, nos adverte que “ninguém pode escapar de modo total e definitivo da histeria egocêntrica, mas cada um pode estar consciente de que ela existe e, a partir daí, começar a questioná-la. O pensamento complexo facilita a auto-observação, que facilita o autoconhecimento que facilita o pensamento complexo. É por isso que se diz que os pontos de alavancagem do sistema humano podem ser localizados e trabalhados por meio da observação do ego, que é a parte mais frágil do conjunto.” (Paixões do Ego, de Humberto Mariotti, 2000)
Com a mente serenada e vivendo no aqui e no agora, pensamos que a mente do ser humano pode se tornar transparente para si mesma. Transparente no sentido de poder ver as coisas como elas são verdadeiramente. Nessa situação, não estaríamos vivendo o Jogo Interior com a nossa própria essência?  Não estaríamos de fato conhecendo a nos mesmos? Não estaríamos na “outra margem do rio”?
No dizer de Gallwey “Quando se encontra o próprio caminho para a experiência direta, quando se pode realmente encarar a essência da vida, então ter-se á atingido o primeiro – mas não o último – objetivo do Jogo Interior”.
E qual seria esse último objetivo do Jogo Interior? Para Gallwey esse objetivo é descobrir o que ele chama de o EGO 3 (particularmente, entendemos o EGO 3 como o “Eu” com “E” maiúsculo. Diferenciando-o, assim, do “eu” com “e” minúsculo). Penso que há muitos caminhos que nos possibilita depararmo-nos com esse Eu, com essa Imensidão, com essa Coisa que não precisa de um nome para ser descoberta. Caminhos há muitos! Nem imaginamos quantos! Cabe a cada um escolher o seu. E, para esse caminhar, consentimos com Gallwey quando ele afirma que para essa realização “O único instrumento necessário é o corpo humano em si, no qual esteja presente a consciência de si mesmo”, e acrescenta que “a procura é interior”.

Obs.: O 10º capítulo do livro “O Jogo Interior de Tênis”, de Timothy Gallwey, intitulado “O Jogo Interior fora da quadra”, está disponível no link Coletânea.

Um comentário:

  1. Caro Roberto,

    Para jogar este jogo interior é coisa difícil. Eu simplesmente me ajoelho e rezo um Pai Nosso e no fim de semana vou a missa. Aí o meu jogo fica zero a zero. Foi o melhor resultado que eu obtive até agora. Quem sabe lendo seu excelente blog eu comece a virar o jogo?

    Lucinha Peixoto (Blog da CIT)

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