Roberto Lira
Na pausa realizada para organizar as idéias, com o intuito de continuarmos os comentários sobre o Jogo Interior, recebemos algumas mensagens, de amigos palaneses, as quais se tornaram oportunos “nutrientes” para a continuidade desta escrevinhação.
Encerramos o primeiro tempo do Jogo Interior reiterando a necessidade de aprendermos a arte de perceber esse Jogo e que isso requer uma mente não dicotômica, transparente e serena! Sem pretendermos indicar um “como” essa aprendizagem ocorre, vamos apenas destacar alguns aspectos a serem refletidos.
Pensamos que tranquilizar a mente pode ser o começo dessa aprendizagem. Uma mente calma, sem o alvoroço e o rebuliço provocados por memes/pensamentos de aflição, de angústia, de incertezas e de medos, permite nos prepararmos para agir adequadamente nas vivências. Preocupações com o passado, que já não pode mais ser mudado, ansiedades frente às incertezas do futuro não nos permite viver no aqui e no agora, onde de fato as coisas são vividas. Referente a esse passado e futuro, Gallwey assinala que “os fantasmas do passado e os monstros do futuro desaparecem quando toda a energia consciente é empregada para compreender o presente”.
Outro ponto a ser considerado é o aqui e o agora. Observamos que os memes/pensamentos, que configuram cada ego e presidem o seu viver, estão sempre a afastar o ser humano do aqui e do agora. Entendemos que o “senhor” ego, por viver apegado as coisas e querendo controlar todas as situações, é o responsável por nossa insatisfação, por nossa infelicidade e por tudo o que nos impede de atravessarmos para a “outra margem do rio”. Desse modo, surge a questão:
Como neutralizar a ação do ego no Jogo Interior?
Para Gallwey, o caminho é simplesmente “deixar acontecer”, que ele traduz como “espontaneidade”. Essa espontaneidade é a essência do eu, que atua sem se importar com os resultados das suas ações. Para ilustrar sua indicação, Gallwey recorre à linguagem do carma ioga, onde isso é chamado de “ação sem ligação com os frutos da ação”. Ele lembra que “ironicamente, quando esse estado é alcançado, os resultados obtidos são os melhores possíveis”.
Edgar Morin, grande pensador contemporâneo, pai da teoria da complexidade, nos adverte que “ninguém pode escapar de modo total e definitivo da histeria egocêntrica, mas cada um pode estar consciente de que ela existe e, a partir daí, começar a questioná-la. O pensamento complexo facilita a auto-observação, que facilita o autoconhecimento que facilita o pensamento complexo. É por isso que se diz que os pontos de alavancagem do sistema humano podem ser localizados e trabalhados por meio da observação do ego, que é a parte mais frágil do conjunto.” (Paixões do Ego, de Humberto Mariotti, 2000)
Com a mente serenada e vivendo no aqui e no agora, pensamos que a mente do ser humano pode se tornar transparente para si mesma. Transparente no sentido de poder ver as coisas como elas são verdadeiramente. Nessa situação, não estaríamos vivendo o Jogo Interior com a nossa própria essência? Não estaríamos de fato conhecendo a nos mesmos? Não estaríamos na “outra margem do rio”?
No dizer de Gallwey “Quando se encontra o próprio caminho para a experiência direta, quando se pode realmente encarar a essência da vida, então ter-se á atingido o primeiro – mas não o último – objetivo do Jogo Interior”.
E qual seria esse último objetivo do Jogo Interior? Para Gallwey esse objetivo é descobrir o que ele chama de o EGO 3 (particularmente, entendemos o EGO 3 como o “Eu” com “E” maiúsculo. Diferenciando-o, assim, do “eu” com “e” minúsculo). Penso que há muitos caminhos que nos possibilita depararmo-nos com esse Eu, com essa Imensidão, com essa Coisa que não precisa de um nome para ser descoberta. Caminhos há muitos! Nem imaginamos quantos! Cabe a cada um escolher o seu. E, para esse caminhar, consentimos com Gallwey quando ele afirma que para essa realização “O único instrumento necessário é o corpo humano em si, no qual esteja presente a consciência de si mesmo”, e acrescenta que “a procura é interior”.
Obs.: O 10º capítulo do livro “O Jogo Interior de Tênis”, de Timothy Gallwey, intitulado “O Jogo Interior fora da quadra”, está disponível no link Coletânea.
Caro Roberto,
ResponderExcluirPara jogar este jogo interior é coisa difícil. Eu simplesmente me ajoelho e rezo um Pai Nosso e no fim de semana vou a missa. Aí o meu jogo fica zero a zero. Foi o melhor resultado que eu obtive até agora. Quem sabe lendo seu excelente blog eu comece a virar o jogo?
Lucinha Peixoto (Blog da CIT)