sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O mestre e o discípulo



Roberto Lira

 Preferimos elogiar as palavras dos mestres espirituais sem aplicá-las a nosso ser profundo, que continua sendo um território escuro e inexplorado.
Jorge Blaschke

O Mestre e o discípulo. Esse é um tema que, como se diz o ditado, dá pano pra manga. E, para o “pano” ser costurado na “manga” própria, vou restringi-lo às filosofias espiritualistas orientais. Essa restrição se deve ao fato de que a decorrente reflexão se originou com a leitura do livro Além de Osho, do escritor Jorge Blaschke, que é uma compilação do pensamento de alguns mestres espirituais do Oriente, com maior ênfase nos ensinamentos do Osho. O foco será dirigido para o segundo capítulo do referido livro que tem por título: O mestre e o discípulo, mesmo título dado ao texto (o capítulo está disponível no link Coletânea). Desse modo, propositadamente, fica ausente desta escrevinhação os mestres e o discípulos das tradicionais religiões ocidentais.
Nesta escrevinhação os termos mestre, mestre de sabedoria, ou mestre espiritual, serão usados como sinônimos. Assim como os termos discípulo, seguidor das idéias/dos conselhos/dos ensinamentos terão o mesmo significado.
Penso que aqueles que procuram superar a sua limitada condição humana já se envolveram ou se envolverão com algum mestre espiritual, em algum momento de suas jornadas, salvo raras exceções. As razões para que esse envolvimento ocorra, ou não, podem ser as mais diversas. Não vem a propósito, no momento, especificar essas razões. Julgo que o importante é que estas  sejam fruto de meditadas reflexões.
Ao agregar parte do conteúdo do capítulo acima mencionado, o faremos sem seguir a ordenação disposta naquele capítulo. Assim, começamos com o um provérbio sufista que trata da aproximação do discípulo ao mestre:
 “O perigo do mestre é que, se nos aproximamos muito, nos queimamos; se nos afastamos não recebemos calor.”

O conceito sintetizado neste provérbio é uma realidade para muitos que já tiveram a oportunidade de se envolverem com algum mestre espiritual e uma orientação prudente para aqueles que poderão vir a se envolver.
Ao ampliarmos nossa compreensão sobre a relação mestre-discípulo, podemos perceber que na realidade existem dois mestres: o mestre exterior – aquele que adotamos por empatia e/ou afinidade com seus ensinamentos; e o mestre interior – que é o próprio eu.  Compreender que o mestre exterior é apenas um guia que pode nos ajudar a conhecermos a nos mesmos e isto é essencial para que o mestre interior assuma o papel que lhe é reservado. O verdadeiro mestre exterior sempre pauta seus ensinamentos na necessidade do discípulo conhecer a si mesmo. Acrescente-se a isto, a preocupação do mestre para que o discípulo não se torne um eterno dependente dos seus ensinamentos, ou seja, que ele possa caminhar por si só.  Jiddu Krishnamurti, um verdadeiro mestre de sabedoria, torna evidente esse conceito quando manifesta:
“Estou apenas a ser como um espelho da vossa vida, na qual podeis ver-vos como sois. Depois, podeis deitar fora o espelho; o espelho não é importante.”

Para Blaschke, “O verdadeiro mestre é aquele que não precisa demonstrar nada, é um ser que já se transformou em algo superior. Para ele, é indiferente que acreditem nele ou não; ele se limita a transmitir seus conhecimentos...”. Krishnamurti ratifica este conceito quando manifesta que se o que ele exprime é útil quem quiser pode levar consigo, senão pode esquecer. Para exaltar essas compreensões a manifestação de Jean Klein é exemplar:
 Um mestre é alguém que vive livre da idéia ou imagem de ser alguém. É alguém que não pede nada, que apenas dá. Um verdadeiro mestre, nem considera seu discípulo como discípulo. Quando nenhum dos dois se considera algo, pode haver um encontro, uma unidade. E nessa unidade é realizada a transmissão.”

Shanti!   Shanti!   Shanti!

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