Roberto Lira
Marcelo Gleiser publicou ontem na sua coluna da Folha de São
Paulo (aqui)
o texto intitulado “Ciência, fé e
extrapolação”, abordando a questão
da compreensão do mundo do ponto de vista da ciência e da fé. Gleiser inicia
sua manifestação:
“Será
que podemos compreender o mundo sem ter alguma espécie de crença”? Essa não só
é uma das questões centrais da dicotomia entre a ciência e a fé como também
informa de que modo um indivíduo se relaciona com o mundo."
Na nossa insciência, ficamos
questionando se há outra possibilidade de compreendermos o mundo, para condução
de nossa vida, além do ponto de vista dicotômico da ciência e da fé? Perceber a
realidade nos relacionamentos com as coisas e/ou com as pessoas requer método
científico ou alguma crença? É necessário que nossas ações se balizem em
comprovações científicas ou sejam amparadas pelas crenças? A observação isenta
de preconceitos, a atenção reflexiva, não seria a forma mais natural de
compreendermos nossas ações no referido mundo?
Para Marcelo
Gleiser:
“Se
contrastarmos explicações míticas e científicas da realidade, podemos dizer que
mitos religiosos procuram explicar o desconhecido com o
"desconhecível", enquanto que a ciência procura explicar o
desconhecido com o ‘conhecível’.
“A tensão vem da crença de que duas realidades independentes existem em pé de
igualdade; uma que pertence a este mundo (e que é, portanto, conhecível), e
outra fora dele (e que é, portanto, desconhecível ou inescrutável).”
Consentimos
com a observação do Gleiser quando ele afirma que e o secular atrito entre fé e
ciência decorre de se tentar igualar duas “realidades” tão distintas e que uma
pertence a este mundo e outra está fora dele. Mas, discordamos quando ele as classifica:
uma como “conhecível” e a outra como “inescrutável”. Entendemos que aquela que
ele designa de “conhecível” pode até ser conhecível, mas é transitória, especialmente
quando se trata dos nossos relacionamentos. É como já dizia o filósofo Heráclito de
Éfeso: “Nunca nos banhamos duas vezes no
mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou”.
Quanto a que ele chama de “inescrutável”, pode ser que assim o seja por meio do método científico, mas quem
garante que ela não possa ser percebida ou compreendida por outros meios?
O Marcelo finaliza seu texto afirmando que:
“Para
avançar em suas teorias, o cientista precisa ter a coragem de arriscar e de
estar errada. Só quando nos atrevemos a arriscar e errar é que podemos, talvez,
enxergar um pouco mais longe do que os outros.”
Consentimos,
também, com a afirmação acima apresentada. Mas, gostaríamos de acrescentar nosso
entendimento de que, além dos cientistas outros seres, inscientes cientificamente,
também possam num insight enxergar
mais além, ou melhor, perceber e/ou compreender aquilo que ele chama de “inescrutável”. Os cientistas
antes de testarem suas teorias não têm uma intuição sobre o objeto, ou fato, a
ser estudado independente de análise, raciocínio ou crença?
Atenção!
Aqui e agora!
Bom dia Roberto,
ResponderExcluirApesar de ter o link da columa do Gleiser nos meus favoritos, nem sempre me lembro de lê-la. Interessante o artigo por ele redigigo e por você comentado.
Talvez esteja errado mas não entendo fé como sinônimo de crença. Para mim a fé é consiste da convicção da possibilidade da existência do metafísico, decorre da confiança em algo insólito, a predisposição a conhecer o inexplicável, o impalpável. Aquilo que pode ser associado a caráter das pessoas ou fatos amparada pela intenção ou a vontade.
A crença, está sim, como o próprio vocábulo indica, constitui o crer, que é deliberado, impensado, que se adota sem emprego da reflexão.
Portanto, considero que o título poderia utilizar a palavra crença no lugar de fé.
Mas isso é uma leitura pessoal.
Quanto a tentar explicar o desconhecido com o "desconhecível", não cabe nem comentário, é a própria síntese da dogmatização, que impõe suas verdades reveladas àqueles que ingenuamente sucumbem a elas.
Lembrei-me do post "Paradoxo Científico", a ciência, ou melhor, os cientistas em sua ânsia de encontrar respostas no que é "conhecível", ignoram o lhes é incompreensível, negando gratuitamente a si próprios a possibilidade a conhecer o "desconhecível", crentes da certeza incerta que os atordoa.
Consinto meu estimado amigo com suas observações, mas sou suspeito para fazê-lo, uma vez que me permiti experimentar outras fontes de conhecimento, que comprovam a inexistência do absoluto, do inquestionável, rompendo as limitações da ciência comum, alienada pelo materialismo tirânico que estreita a razão e promove a inércia da consciência, mergulhando o mundo científico na clausura da soberba.
Grande abraço,
Luiz Otávio