segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Ciência, fé e extrapolação ou...


Roberto Lira


Marcelo Gleiser publicou ontem na sua coluna da Folha de São Paulo (aqui) o texto intitulado “Ciência, fé e extrapolação”, abordando a questão da compreensão do mundo do ponto de vista da ciência e da fé. Gleiser inicia sua manifestação:

“Será que podemos compreender o mundo sem ter alguma espécie de crença”? Essa não só é uma das questões centrais da dicotomia entre a ciência e a fé como também informa de que modo um indivíduo se relaciona com o mundo."

Na nossa insciência, ficamos questionando se há outra possibilidade de compreendermos o mundo, para condução de nossa vida, além do ponto de vista dicotômico da ciência e da fé? Perceber a realidade nos relacionamentos com as coisas e/ou com as pessoas requer método científico ou alguma crença? É necessário que nossas ações se balizem em comprovações científicas ou sejam amparadas pelas crenças? A observação isenta de preconceitos, a atenção reflexiva, não seria a forma mais natural de compreendermos nossas ações no referido mundo?

Para Marcelo Gleiser:

“Se contrastarmos explicações míticas e científicas da realidade, podemos dizer que mitos religiosos procuram explicar o desconhecido com o "desconhecível", enquanto que a ciência procura explicar o desconhecido com o ‘conhecível’.

“A tensão vem da crença de que duas realidades independentes existem em pé de igualdade; uma que pertence a este mundo (e que é, portanto, conhecível), e outra fora dele (e que é, portanto, desconhecível ou inescrutável).”

Consentimos com a observação do Gleiser quando ele afirma que e o secular atrito entre fé e ciência decorre de se tentar igualar duas “realidades” tão distintas e que uma pertence a este mundo e outra está fora dele. Mas, discordamos quando ele as classifica: uma como “conhecível” e a outra como “inescrutável”. Entendemos que aquela que ele designa de “conhecível” pode até ser conhecível, mas é transitória, especialmente quando se trata dos nossos relacionamentos. É como já dizia o filósofo Heráclito de Éfeso: “Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou”. Quanto a que ele chama de “inescrutável”, pode ser que assim o seja por meio do método científico, mas quem garante que ela não possa ser percebida ou compreendida por outros meios?

 O Marcelo finaliza seu texto afirmando que:

“Para avançar em suas teorias, o cientista precisa ter a coragem de arriscar e de estar errada. Só quando nos atrevemos a arriscar e errar é que podemos, talvez, enxergar um pouco mais longe do que os outros.”

Consentimos, também, com a afirmação acima apresentada. Mas, gostaríamos de acrescentar nosso entendimento de que, além dos cientistas outros seres, inscientes cientificamente, também possam num insight enxergar mais além, ou melhor, perceber e/ou compreender aquilo que ele chama de inescrutável”. Os cientistas antes de testarem suas teorias não têm uma intuição sobre o objeto, ou fato, a ser estudado independente de análise, raciocínio ou crença?

Atenção! Aqui e agora!





Um comentário:

  1. Bom dia Roberto,

    Apesar de ter o link da columa do Gleiser nos meus favoritos, nem sempre me lembro de lê-la. Interessante o artigo por ele redigigo e por você comentado.
    Talvez esteja errado mas não entendo fé como sinônimo de crença. Para mim a fé é consiste da convicção da possibilidade da existência do metafísico, decorre da confiança em algo insólito, a predisposição a conhecer o inexplicável, o impalpável. Aquilo que pode ser associado a caráter das pessoas ou fatos amparada pela intenção ou a vontade.

    A crença, está sim, como o próprio vocábulo indica, constitui o crer, que é deliberado, impensado, que se adota sem emprego da reflexão.
    Portanto, considero que o título poderia utilizar a palavra crença no lugar de fé.
    Mas isso é uma leitura pessoal.

    Quanto a tentar explicar o desconhecido com o "desconhecível", não cabe nem comentário, é a própria síntese da dogmatização, que impõe suas verdades reveladas àqueles que ingenuamente sucumbem a elas.

    Lembrei-me do post "Paradoxo Científico", a ciência, ou melhor, os cientistas em sua ânsia de encontrar respostas no que é "conhecível", ignoram o lhes é incompreensível, negando gratuitamente a si próprios a possibilidade a conhecer o "desconhecível", crentes da certeza incerta que os atordoa.

    Consinto meu estimado amigo com suas observações, mas sou suspeito para fazê-lo, uma vez que me permiti experimentar outras fontes de conhecimento, que comprovam a inexistência do absoluto, do inquestionável, rompendo as limitações da ciência comum, alienada pelo materialismo tirânico que estreita a razão e promove a inércia da consciência, mergulhando o mundo científico na clausura da soberba.

    Grande abraço,

    Luiz Otávio

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