quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A simplicidade interior


Roberto Lira

Pensamos a simplicidade interior como algo que tem uma relevância muito maior do que a simplicidade de se satisfazer com pouca posse ou poucas coisas no cotidiano a vida. Ficar livre do fardo de várias coisas, especialmente, da posse de bens materiais ou abandono de algum vício degradante ou deteriorante, é relativamente fácil quando a jornada pessoal busca algo além da trivialidade da vida. Dar valor a poucas posses ou ser virtuoso nas condutas sociais não é ter simplicidade interior, isso nada mais é do que exteriorizar ausência de sofisticação.

Não queremos nesta reflexão desmerecer a simplicidade exterior, ela tem sua importância, pois não deixa de ser uma ação de probidade. Mas por que será que, geralmente, começamos com a simplicidade exterior e não com a interior? Será a razão disso nosso desejo, subliminar, de nos engrandecer aos olhos dos outros? Esse desejo, imposto pela mente, não aumenta nossa complexidade e vez de nos tornar simples, integralmente? Pensamos que a simplicidade interior nos leva também a ser simples exteriormente, mas nem sempre a simplicidade exterior nos leva a simplicidade interior. Portanto, a simplicidade interior é prioritária em nossas vidas.

Ser interiormente simples é não apresentar contradição dentro si mesmo. A simplicidade interior começa por ser honesto consigo mesmo, quando somos capazes de reconhecer que mentimos quando mentimos e não esconder tal fato ou fugirmos dele. A simplicidade interior entre outras coisas nos torna capaz de olhar a nós mesmos sem qualquer desfiguração, de vermos o falso como falso e o verdadeiro como verdadeiro que existe em cada um de nós.

Ser simples interiormente nos torna capaz de observarmos as coisas sem intermediários e sem medo. Disso decorre uma percepção das coisas de forma clara, direta, sem palavras, sem símbolos e sem ideias. A simplicidade interior conduz nossas ações sem ideias e permite enfrentarmos aquilo que é, a cada minuto, com condutas livres e criadoras.

Há simplicidade interior resulta do autoconhecimento, quando compreendemos a nós mesmos: os movimentos de nossos pensamentos, nossas reações com outros, nossos conformismos para nos protegermos, nossa dependência das autoridades religiosas e/ou políticas. Essa simplicidade não pode existir quando nos apegamos a qualquer crença ou dogma, ela surgirá quando formos livres interiormente.

2 comentários:

  1. Bom dia Roberto,

    Li o seu texto ontem, mas não pude apreciá-lo como deveria.

    Consinto com com você quando se refere a simplicidade interior. Despojar-se do conforto ou de posses materiais não configura a simplicidade de espírito, somente a física, que pouca coisa tem a ver com o interno.

    Infelizmente conheço alguns seres que mesmo tendo poucas posses, são incapazes de serem humildes, embora o sejam financeiramente.

    Seu texto me remete a lembrar da falsa humildade, de Gonzáles Pecótche, quando alguns seres se fazer passar por algo para aparentar um condição diferente, que lhe deva convir. Também constato a falsa suntuosidade, que é bastante comum, onde aqueles querem parecer capazes de ostentar uma condição além de suas posses, que deve trazer um amargor e uma inveja figadais.

    Penso que isso é a consequencia dessa cultura nefasta voltada ao materialismo que valoriza as aparências em detrimento do interior do ser. Esse conceito massificado pela mídia acaba por ser inculcado pelas mentes desprevenidas que sucumbem a pressão do "marketing".

    Seu segundo parágrafo converge com a prática das doutrinas religiosas que incentivam as pessoas a se desfazerem de suas poucas posses "demoníacas", alegando que aos pobres e aos humildes caberão o reino dos céus, logicamente, essa probidade deve ser feita em favor de sua igreja, associando a isso a salvação da alma.

    Concordo que não existe relação entre a riqueza, e a simplicidade, embora saiba que entre os pobres haja uma propensão maior a ser solidário, são coisas diferente, e uma não pressupõe da outra para existir, ou coexistir.

    Talvez estejamos propensos a mentir para si mesmos para não ter que admitir a dura realidade que nos acerca, aceitar as próprias limitações e conscientizar-se delas cientes das nossas perturbadoras deficiências é uma tarefa árdua, portanto ser honesto consigo, é difícil, enquanto a falsidade é fácil e rápida.

    Tenho tentado ser honesto, e consequentemente simples. Sei que muitas vezes falho no meu intento, mas fazer o quê, não sou perfeito mesmo. Então me resta continuar, e como a prática traz a perfeição, um dia eu chego lá, conhecendo-me aos poucos, de forma livre e natural.

    Grande abraço,

    Luiz Otávio

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É tudo isso mesmo, Luiz.

      ESTAR ATENTO A NÓS MESMO É O QUE INTERESSA, O RESTO NÃO TEM PRESSA – imitando um velho bordão da Escolinha do profº Raimundo na TV.

      Abração,

      rjtl

      Excluir