Jiddu Krishnamurti (*)
Segurança, felicidade, prazer
O que é que a maioria esta procurando? O que é que cada um
de nós quer? Neste mundo inquieto, onde todos estão tentando encontrar algum
tipo de paz, algum tipo de felicidade, um refúgio, é importante descobrir o que
é que estamos tentando buscar, o que estamos tentando descobrir. Provavelmente,
a maioria está buscando felicidade, paz. Penso que é isso o que a maioria quer.
Então, começamos a buscar, passamos de um líder para outro, de uma organização
religiosa para outra, de um mestre para outro.
Mas estamos procurando felicidade ou estamos em busca de
satisfação de algum tipo, da qual esperamos extrair felicidade? Há uma
diferença entre satisfação e felicidade. Você pode procurar felicidade? Talvez possa encontrar satisfação, mas de modo
algum pode encontrar felicidade.
Felicidade é derivativa, é um subproduto de alguma coisa. Então, antes de
entregar a mente e o coração a algo que demande uma dose de dedicação, atenção,
pensamento e cuidado, devemos descobrir o que é que estamos procurando, se é
felicidade ou satisfação. Receio que muitos de nós estamos procurando
satisfação. Queremos ficar satisfeitos, queremos encontrar uma sensação de
plenitude ao fim de nossa busca.
Quem está buscando paz, pode encontrá-la muito facilmente.
Podemos nos devotar cegamente a uma causa, uma idéia, e esse será nosso refúgio.
No entanto, isso não resolve o problema. O mero isolamento no refúgio de uma
idéia não nos liberta do conflito. Então, devemos descobrir o que é que
queremos, interna e externamente. Se descobrimos isso, não precisamos ir a
lugar algum, nem procurar um mestre, uma Igreja, uma organização. Dessa forma,
nossa dificuldade reside em sabermos com clareza qual é nossa intenção, não é?
Podemos saber com clareza? Isso vem através da busca, da tentativa de descobrir
o que os outros dizem, desde o mais elevado mestre até o pregador comum da
igreja ali na esquina? É preciso recorrer a alguém para descobrir? No entanto,
é isso que estamos fazendo, não é verdade? Lemos inúmeros livros, participamos
de muitas reuniões, discutimos, filiamo-nos a várias organizações, tentando
achar um remédio para o conflito, para a infelicidade em nossas vidas. Ou, se
não fazemos isso tudo, achamos que nossa busca chegou ao fim, isto é, dizemos
que uma certa organização, ou determinado mestre, ou um livro específico nos satisfaz,
que encontramos tudo o que queríamos; e assim permanecemos, cristalizados e
encerrados.
Nós procuramos, no meio de toda essa confusão, algo
permanente, duradouro, algo que possamos chamar de real, Deus, verdade, o que
você queira, pois o nome não importa, a palavra, seguramente, não é a coisa que
define. Então, não vamos nos enredar em palavras, deixemos isso para os
oradores profissionais. A maioria busca por algo permanente. Algo a que
possamos nos agarrar, algo que nos dê uma certeza, uma esperança, um entusiasmo
duradouro, uma convicção que dure, porque, no íntimo, somos indecisos. Não
conhecemos a nós mesmos. Sabemos muito
sobre fatos, sabemos o que os livros dizem, mas não sabemos por nós mesmos, não
temos uma experiência direta.
E o que é que chamamos de permanente? O que é que estamos
procurando, que nos dará ou que esperamos que nos dê permanência? Não estamos
procurando felicidade, satisfação e certeza duradouras? Queremos algo que dure
para sempre e que nos dê satisfação. Se nos despojarmos de todas as palavras e
frases e realmente olharmos para esse algo, veremos o que queremos. Queremos
prazer permanente...
A felicidade não pode ser perseguida
O que você quer dizer com “felicidade”? Alguns dirão que
felicidade é ter o que se quer. Você quer um carro, consegue um, então é feliz.
Eu quero roupas, quero ir à Europa, e se posso ir, fico feliz. Quero ser o
maior político que já existiu e, se consigo, fico feliz, se não consigo,
torno-me infeliz. Então, o que chamamos de felicidade é ter o que se quer, é
realizar, alcançar sucesso, tornara-se nobre, conseguir qualquer coisa que se
queira. Quando quer alguma coisa e pode tê-la, você se sente perfeitamente
feliz, não sente nenhuma frustração. Mas,
se não pode ter o que quer, sua infelicidade começa. Todos nós nos preocupamos
com isso, não só os ricos ou os pobres. Os ricos e os pobres, todos querem algo
para si, para sua família, para a sociedade e, se são impedidos, tornam-se infelizes.
Não estamos dizendo que os pobres não devem ter o que querem. O problema não é
esse. Estamos tentando descobrir o que é felicidade e se ela é alguma coisa da
qual estamos conscientes. Será felicidade aquele momento em que tomamos consciência
de que somos felizes, que possuímos muito? Esse momento não é felicidade, é?
Então, não podemos ir atrás da felicidade. No momento em que temos consciência
de que somos humildes, não somos humildes. Portanto, felicidade não é algo que
se persiga. Ela vem para nós. Mas, se a procurarmos, ela fugirá.
O segredo da felicidade é o autoconhecimento no
relacionamento
Você já está se compreendendo através do espelho de seus
próprios pensamentos, no espelho do relacionamento. Acredito que a felicidade
está em nossas mãos, e que o segredo dela é o autoconhecimento – não o autoconhecimento
de Freud, Jung ou Shankara, nem de outros, mas aquele que vem com as
descobertas que fazemos em nosso relacionamento, dia após dia. É através da
observação, da percepção, sem o esforço do pensamento dia após dia, quando
estamos em um ônibus, ou viajando de carro, quando falamos com a esposa, com os
filhos, com os vizinhos, é através da observação de tudo isso, como se olhássemos num espelho, que começamos a
descobrir como falamos, como pensamos e reagimos, e vemos que, nessa compreensão
de nós mesmos, temos algo que não é encontrado em livros, filosofias, nos ensinamentos
de nenhum guru.
(*) Trechos do livro: O que você está fazendo com a sua vida? – Jiddu Krishnamurti. Rio
de Janeiro: Nova Era, 2010
Caro Roberto,
ResponderExcluirSempre leio o seu blog que já quase coloquei nos meus “in memoriam” por você escrever pouco nele. Mesmo admirando o linguajar do Krishinamurti (desculpe se errei o nome, mas, é difícil), eu ainda prefiro o Papa Francisco que diz que a felicidade existe e, com fé, pode ser encontrado numa boa feijoada, desde que estejamos prontos para colocar mais água nela em solidariedade. O que penso que seu guru, no fundo, no fundo está tentando dizer é que para encontrarmos a felicidade basta irmos a uma boa missa, e cumprimentar nossos irmãos.
O último parágrafo também me lembrou o Zeca Pagodinho, cantando: “Deixa a vida me levar, vida leva eu....”. Desculpe a jocosidade, mas, até a felicidade pode ser nela encontrada.
Lucinha Peixoto
Cara Lucinha, bons dias!
ExcluirEu também sou um contumaz leitor do seu blog e, também, o do ZéCar (AGD). Como um bom mineirinho (mesmo adotado) quando se trata de Crenças e Opiniões fico quietinho no meu cantinho. Já manifestei (você deve lembrar) que depois de ter lido “As Opiniões e as Crenças”, de Gustave Le Bon, posso não respeitar as crenças, mas respeito de coração todos os crentes. Polêmica nunca mais!
Quanto ao que você pensa do JK – você o ofende quando o chama de guru, mas deixa prá lá, é um grande equivoco, mesmo que jocoso. Com certeza o JK pensa como o Zeca Pagodinho, cantando: “Deixa a vida me levar, vida leva eu...”. E eu consinto com os dois, observando a vida me levar e levando ela, só que com um olho no gato e o outro no peixe. O gato sou eu mesmo e o peixe são minhas ações nos relacionamentos. JK acerta, também, quando afirma que a felicidade é derivativa. No derivatório feliz, cada um com o seu.
Abração,
rjtl
Boa tarde Roberto,
ResponderExcluirLamento não ter respondido ao seu comentário no Recanto da Letras, ultimamente o tempo tem andado escasso e ainda não consegui, como o Maestro, ampliá-lo. Ironias a parte, gostaria de enfatizar que aquele texto, Anacrônico, já foi objeto de apreciação sua no Idiota Inteligente, mas, o tempo foge aos nosso dedos, e a memória nos furta as lembranças. De qualquer modo fico lisonjeado como suas palavras. É sempre um prazer tê-lo em companhia, aludindo a K, nossos relacionamentos são felicidades que acontecem ao sabor do destino, não existe um projeto, somente a consequência da contato que enriquece nosso viver. Após algum tempo calado, postei hoje mais um texto controverso, que busca instigar a mente daqueles que se conformaram a "verdade". Agora também sobre a influencia Gustave Le Bon, dentre outros. E vamos que vamos, palpitando e deixando a vida nos levar, contudo, atentos.
Grande abraço,
Luiz Otávio