sábado, 19 de fevereiro de 2011

Vivendo e aprendendo



Roberto Lira

            O título deste texto, “vivendo e aprendendo”, nos remete ao velho e conhecido ditado que, geralmente, interpretamos como um processo de extrair uma lição para aplicá-la em nossa vida cotidiana ou o acúmulo de conhecimento especializado para a prática profissional. Não é esse o sentido que queremos contextualizar o Vivendo e aprendendo.
            A aquisição cumulativa de conhecimento especializado, ou não, é o que garante o nosso sustento, a nossa sobrevivência física. Pode, ainda, nos safar de situações cotidianas que por vezes nos trazem tantos transtornos. Qualquer uma dessas aquisições é imprescindível para o ser humano.  Mas, se examinamos acuradamente esse processo, onde se adiciona cada vez mais conhecimento, podemos perceber que isso não é viver aprendendo, é ter aprendido, é passado, é memória, não é viver no aqui e agora. E é para viver no aqui e agora que estamos nos propondo a contextualizar o Vivendo e aprendendo.
            Por que o viver aprendendo, sem a bagagem do conhecido, pode ser importante para nossas vidas?
Ao valorizarmos indiscriminadamente o acúmulo de conhecimento, levando em conta a era digital que vivemos, com certeza, vamos levar o maior baile frente aos computadores. Estes têm capacidade de acumular muito mais conhecimento, em muitíssimo menos tempo, que qualquer mente humana. É só darmos algumas tecladinhas e está tudo ali, à nossa disposição. Por que sobrecarregar a nossa mente além do necessário?
A mente que se acha livre do conhecido, torna-se uma mente renovada, receptiva, criadora. De modo contrário, quando a mente está abarrotada de memes/pensamentos, por bons e construtivos que sejam estes, não sobra espaço para insigths, para O Desconhecido, para Aquela Luminosidade. Se desejarmos conquistar essas possibilidades é necessário mantermos um ambiente mental limpo, livre, despoluído, inocente. Ao vivermos aprendendo a cada instante, no aqui e agora, não necessitamos dar nomes as coisas, traduzirmos as vivencias com o já conhecido ou nos apegarmos às nossas descobertas, nada disso é necessário. Para observarmos e compreendermos nosso viver, para conhecermos a nos mesmos, não precisamos de uma mente que funciona de modo mecânico, sobrecarregada de conhecimentos, repleta de imagens já vividas que só embotam a percepção do aqui e agora.  
É claro que há momentos que precisamos viver mecanicamente. Precisamos saber onde moramos, ter conhecimentos para ganhar o sustento de cada dia, devemos lembrar-nos de quem apanhamos ou em quem batemos, para não continuar apanhando ou batendo, etc., etc., etc. Isto não está em discussão. O que estamos falando é que para alcançarmos a outra margem do rio e para que Aquela Imensidão nos alcance, devemos deixar a nossa bagagem, nossos condicionamentos, no lado desbarrancado da vida e atravessarmos a correnteza livre, leve e solto.  
Estas reflexões vieram à tona sem a necessidade de memorizar, nem inculcar nenhum ensinamento. Fomos atrás de ensinamentos na grande “memória” digital, achamos, refletimos, escrevemos sobre ele e colamos (abaixo). Se no futuro nos depararmos novamente com este mesmo ensinamento, vamos procurar compreendê-lo e experimentá-lo como se o tivéssemos encontrado pela primeira vez. Será que conseguiremos? Não sei.
 Há, portanto, uma diferença entre a aquisição de conhecimento e o ato de aprender. É preciso ter conhecimento; do contrário, não vamos saber onde moramos, vamos nos esquecer do nosso próprio nome, etc. Logo, num dado nível, o conhecimento é imprescindível. Mas quando ele é empregado para compreender a vida – que é um movimento, uma coisa viva, móvel, dinâmica, que se altera a cada instante –, quando a pessoa é incapaz de caminhar com a vida, ela vive no passado e tenta compreender essa coisa extraordinária chamada vida. E para compreender a vida, é preciso aprender a cada minuto sobre ela e nunca abordá-la já tendo aprendido” (Jidu Krishnamurti)
E para não perdermos a viagem, vamos seguindo com o cancioneiro popular:
            Eu já estou com o pé nessa estrada
            Qualquer dia a gente se vê
            Sei que nada será como antes amanhã...

Um comentário:

  1. Roberto,

    A Ilha de Pala tá boa que tá danada. Vou terminar mudando prá lá. Aqui é mais copiar e colar. Um abraço do

    Zé Carlos

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