sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Polêmicas construtivas 2


Roberto Lira

No embalado do texto de Hélio Schwartsman (reproduzido neste blog), que trata da polêmica entre entre Ives Gandra e Daniel Sottomaior sobre o fundamentalismo, recebi ontem um texto do Contardo Galligaris, enviado por um blogueiro compartilhador – Alam Kenji Minowa. Esse texto do Galligaris, “Sentidos do fundamentalismo”, dá continuidade a polêmica em questão.

Galligaris além de apresentar uma definição do que é fundamentalismo, com a qual eu consinto em todos os aspectos, faz referência a uma solicitação feita por seu pai em relação à morte, a qual eu, também, já fiz aos meus filhos acrescentando que não me enterrem e sim me cremem. Mesmo não sendo fundamentalista no geral, no caso particular da referida solicitação, fundamentalista eu sou.

Mantendo o propósito do blog que é o de Compartilhar Idéias, Reflexões e Utopias, especialmente, quando ao meu juízo elas contribuem para a superação humana é que reproduzo abaixo o texto do Calligaris. Por ora, sem maiores análises.

“CONTARDO CALLIGARIS

Sentidos do fundamentalismo




O fundamentalista não consegue praticar normas que ele prega e sente inveja de quem não as respeita


Eis uma (pequena) contribuição ao debate sobre fundamentalismo que se deu, recentemente, na Folha (artigos de Ives Gandra da Silva Martins, 24/11, e Daniel Sottomaior, 8/12; cartas dos leitores Antônio Ilário Felici e Francisco Guimarães, 9/12; coluna de Hélio Schwartsman, 10/12).

Fundamentalista é, antes de mais nada, quem leva a sério sua convicção e segue à risca os preceitos que derivam dela.

Se você for católico, não se divorciará nem comerá carne na Sexta da Paixão; se for judeu, no sábado, evitará ligar a luz elétrica; se for muçulmano, não tomará álcool e, caso seja mulher, circulará de véu fora de casa; se for ateu, não invocará a misericórdia divina, nem mesmo em momentos de extremo perigo.

Meu pai era convencido de que existem mistérios para os quais qualquer resposta seria desonesta.

Nesse seu agnosticismo, ele era fundamentalista no sentido que acabo de definir. Um dia, quando meu irmão e eu éramos já adultos, ele quis que prometêssemos que, se ele, na agonia, pedisse a assistência de um padre, nós lhe negaríamos esse recurso, considerando que sua sanidade mental teria se perdido no aperto acovardado da última hora.

Prometemos. Por sorte, ele morreu sem pedir conforto religioso algum. Se ele tivesse pedido, não sei se eu teria mantido minha promessa; à diferença dele, eu não sou fundamentalista: decido e escolho segundo as circunstâncias e não por princípio.

Mesmo assim, tenho respeito, se não simpatia, por esse tipo de fundamentalismo. E acho que todos deveriam poder levar (e viver) suas convicções a sério, se assim quiserem – claro, nos limites básicos impostos pelos códigos Penal e Civil, que regem a convivência social.

Mas tenho pressa de chegar ao outro sentido, pelo qual fundamentalista é quem exige que os preceitos que derivam de suas convicções ou de sua fé sejam observados por todos – ou mesmo que eles se transformem em lei da sociedade inteira.

Esse tipo de fundamentalista, seja qual for sua convicção, religiosa ou ateia, é animado pela necessidade de converter os outros, a qualquer custo. Em geral, ele acha que a violência de seu espírito "missionário" é um corolário de sua fé e uma prova de sua generosidade: "Forçando o outro a se converter, eu só quero seu bem, mesmo que seja contra a vontade dele".

Com esse tipo de fundamentalista, eu implico, por duas razões.

Primeiro, detesto que alguém esconda sua violência atrás de pretensas boas intenções e não gosto da idéia de que um outro imagine saber o que é "bom" para mim.

Segundo, não acredito que alguém possa querer converter os outros à força por generosidade.

Há duas razões pelas quais, em regra, alguém quer impor as normas de suas convicções aos outros, e ambas são péssimas:

1) Ele precisa que ao menos os outros respeitem essas normas, que ele preza, mas não consegue impor a si mesmo -ou seja, incapaz de obedecer a seus próprios princípios, ele quer validá-los pela obediência forçada dos outros;

2) Ele quer se livrar da inveja que ele sente da vida dos que não respeitam essas mesmas normas (para assinalar a componente de inveja, presente nos moralistas, Alfred Kinsey, o grande sociólogo e sexólogo, dizia que "ninfômana" e "tarado" são os que conseguem ter uma vida sexual mais intensa do que a da gente).

Em suma, os motores de muitos fundamentalismos missionários são a incapacidade de viver à altura dos preceitos pregados e a inveja de quem não respeita esses preceitos.

Por isso, no debate (ou na gritaria) entre homossexuais e evangélicos, por exemplo, nem preciso decidir se gosto mais de Oscar Wilde ou do apóstolo Paulo.

Pois, bem antes e independentemente disso, a oposição relevante é a seguinte: os homossexuais não pretendem que os evangélicos passem todos a transar com parceiros do mesmo sexo ou a frequentar baladas gays, enquanto os evangélicos pretendem que os homossexuais se convertam e renunciem a seu desejo (transformado em "pecado") – ou, no mínimo, que eles sejam impedidos de viver segundo suas próprias disposições e convicções.

Ou seja, para se situar nessa oposição, não é preciso escolher entre as idéias e as práticas das partes, mas entre os que querem regrar a vida de todos segundo seus preceitos e os que preferem que, nos limites da lei, todos possam pensar e agir como quiserem.

Assim sendo, como se diz na roleta, "façam suas apostas".”

Eu diria, assim sendo, reflitam e vivam o aqui é o agora!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Polêmicas construtivas

Roberto Lira

No Mural de Recados de um site de minha cidade natal – http://www.bomconselhopapacaca.com.br –, o conterrâneo Ronaldo Dias postou uma mensagem que faz referência a um texto do articulista da Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman, intitulado Fundamentos do Ateísmo. Como gosto de acompanhar polêmicas que envolvem religião e ciência, fui ao texto.
Ao ler o referido texto, talvez, por considerar-me agnóstico, de pronto consenti com a opinião do articulista. Entendendo que os argumentos nele apresentados são construtivos para a superação humana, resolvi compartilhá-lo com os possíveis leitores deste blog. O texto pode ser visto em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/1019342-fundamentos-do-ateismo.shtml.
Com a palavra Helio Schwartsman:
Fundamentos do ateísmo
SÃO PAULO – Já que dois amigos meus, Ives Gandra Martins e Daniel Sottomaior, se engalfinharam em polêmica acerca de um suposto fundamentalismo ateu, aproveito para meter o bedelho nessa intrigante questão. Como não poderia deixar de ser, minha posição é bem mais próxima da de Daniel que da de Ives.
Não se pode chamar de fundamentalista quem exige provas antes de crer. Aqui, o alcance do ceticismo é dado de antemão: a dúvida vai até o surgimento de evidências fortes, as quais, em 2.000 anos de cristianismo, ainda não apareceram.
Ao contrário, dogmas vão contra tudo o que sabemos sobre o mundo. Virgens não costumam dar à luz e pessoas não saem por aí ressuscitando. Em contextos normais, um homem que veste saias e proclama transformar vinho em sangue seria internado. Quando se trata de religião, porém, aceitamos violações à física e à lógica. Por quê?
Ou Deus existe e espera de nós atitudes exóticas – e inconsistentes de uma fé para outra –, ou o problema está em nós, mais especificamente em nossos cérebros, que fazem coisas esquisitas no modo religioso.
Fico com a segunda hipótese. Corrobora-a um número crescente de cientistas que descrevem a religiosidade ou sua ausência como estilos cognitivos diversos. Ateus privilegiam a ciência e a lógica, ao passo que crentes dão mais ênfase a suas intuições, que estão sempre a buscar padrões e a criar agentes.
Posta nesses termos, fé e ceticismo se tornam um amálgama de influências genéticas e culturais difícil de destrinchar – e de modificar.
Como bom ateu liberal, aplaudo avanços no secularismo, já que contrabalançam o lado exclusivista das religiões, que não raro degenera em violência e obscurantismo. Mas, ao contrário de colegas mais veementes, acho que a religião, a exemplo do que se dá com filatelia, literatura e sexo, pode, se bem usada, ser fonte legítima de bem-estar e prazer.”
Refletir é preciso, aqui e agora!

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A corrupção e seus deslindes

Roberto Lira

Nos tempos atuais, a questão da corrupção tem sido a tônica dos noticiários em geral. Observamos, em relação à corrupção, que ela tem se propagado a níveis endêmicos em nossa civilização nos dias de hoje. A corrupção que grassa nos meios políticos e empresariais, quer seja em regimes democráticos ou ditatoriais, é alarmante e tem chamado a atenção da maioria de nós seres humanos. A “lei do Gerson”, onde todos querem levar vantagem em tudo é a bola da vez, ou melhor, é a grande jogada da vez.

Muito tem se discutido sobre os aspectos mais degradantes dessa nefasta manifestação da conduta humana, mas pouco se tem refletido sobre aspectos sutis dos atos de corrupção. Estes originados em nosso entendimento, especialmente, pelo condicionamento que determinadas crenças nos incutem. Salientamos que nesta reflexão, não é nossa intenção estabelecer nenhum preconceito sobre a conduta de quem quer que seja. Pretendemos apenas, mantendo a parte os procedimentos corruptos inquestionavelmente indecentes e inaceitáveis, dirigir nossa atenção para aquelas condutas que, mesmo aparentemente inocentes e/ou inconscientes, podem sutilmente conter o germe da corrupção. Para melhor delimitar esta reflexão, o termo corrupção deve ser entendido como: ato ou efeito de subornar alguém em causa própria ou alheia, e subornar como: dar ou oferecer algo a fim de conseguir alguma coisa imerecida.

Imaginemos a seguinte situação, corriqueiramente observada na conduta de várias das nossas famílias humanas: um pai zeloso frente à necessidade do filho fazer vestibular ou prestar concurso para conseguir um almejado emprego. Como um bom Cristão, roga a Deus em suas preces e/ou promessas para que Ele faça seu filho ser bem sucedido no seu empreendimento (por vezes, essa solicitação não é feita diretamente a Deus, e sim através de intermediários terrenos ou celestes).

Como “decidirá” Deus – Criador e Gestor das (incorruptíveis) Leis Universais – quem serão os escolhidos?  Serão “escolhidos” aqueles que se apresentam com o handicap das preces e promessas dos pais? Ou essa seleção é feita pelas Leis Universais baseada, exclusivamente, na aptidão intelectiva dos candidatos?

Nesse ato de solicitar a interferência de Deus para beneficiar o querido filho, sem se ater ao merecimento deste em relação aos outros concorrentes, como podemos classificar a conduta desses pais?  Certamente, nesse tipo de solicitação os pais não levam em conta, nas suas preces e promessas, que os merecedores das limitadas vagas em disputa devem ser daqueles que mais se esforçaram em sua capacitação para o vestibular ou concurso e chegaram mais capazes para a disputa, independente de ser seus filhos ou não.

É possível imaginar Deus favorecendo alguém, em atenção às suplicantes preces e mirabolantes promessas de um “humilde servo”?  Onde ficaria a Justiça Divina concedendo “graças” para uns em detrimento de outros para quem não houve rogos, mas que são merecedores do objetivo pretendido, por méritos próprios. A ação de pedir a interseção Divina, ofertando preces e/ou promessas, para que o filho seja favorecido na sua empreitada, não teria o germe da corrupção, mesmo que sutilmente? Ofertas e promessas a Deus para que Ele beneficie os seus ou a si próprio não seria uma tentativa de corrompê-Lo?

Pensamos que há situações em que os rogos a Deus, a Brahma, a Natureza, ou como o quisermos Chamá-lo não abrigariam o germe da corrupção. Por exemplo, entendemos que nas agruras que passamos em determinada doença, as preces dirigidas ao Absoluto para a melhora da saúde não estariam contaminadas pelo germe da corrupção. Desse modo, o beneficio pretendido não traria nenhum prejuízo a terceiros, portanto, compreensivelmente ético. Se, no entanto, estendermos essa reflexão para a tentativa de se conquistar a saúde por meio de promessas,  nesse caso ela (a promessa), ao nosso juízo, não teria a mesma ética da primeira situação. Pois, nos parece que teriam um sentido de “compra” – se eu conseguir isso, prometo te dar aquilo.

A reflexão ora suscitada é deveras delicada e merece todo comedimento.  Nem por isso devemos evitá-la, para não melindrar jovens e/ou adormecidas consciências. Pensamos ser necessário que o assunto corrupção não fique restrito ao lamaçal que grassa nas instituições públicas ou privadas, hoje tão difundido pela mídia ou comentados nos encontros sociais. Faz-se necessário mergulharmos em nosso interior para identificarmos, e se necessário erradicarmos, em nos mesmos, qualquer sinal por mais sutil que seja desse indesejável germe que tanto desqualifica o Ser que se diz humano.

A luta a ser desencadeada, ou melhor, esse “jogo” deve começar no nosso interior.


sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Da Insatisfação a Felicidade


Roberto Lira

Da Insatisfação a Felicidade” dá titulo a um livro do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti (JK), onde se publica uma série de palestras proferidas na cidade de Bombaim, no ano de 1948.
No início dos anos 80, tivemos oportunidade de ler algumas publicações do Krishnamurti. Desde então, consideramos suas idéias empolgantes, revolucionárias, mas por vezes incompreensíveis. Um belo dia, garimpando na biblioteca da AABB Recife nos deparamos com o livro acima referido, e, a partir dessa leitura muitas das manifestações de JK, até então incompreendidas, foram aclaradas. Procuramos adquirir o livro, mas ele achava-se esgotado. Assim, o exemplar da biblioteca foi xerocopiado e nos serviu de livro de cabeceira por mais de uma década. Depois de um longo período sem manuseá-lo, retomamos a leitura da surrada Xerox. Todo nosso encantamento pelas sábias reflexões que o Krishnamurti nos brinda, ressurgiu a mente de forma muito mais intensa e as compreensões se tornaram ainda mais claras, do que nas pretéritas leituras. Nos últimos tempos, tentamos de novo adquirir a referida publicação, tendo em vista a mesma ter retornado a condição de livro de cabeceira, mas só encontramos um velho exemplar em num sebo na internet, e o valor cobrado julgamos ser extorsivo. Assim, decidimos digitalizar/digitar nossa velha cópia e compartilhá-la com possíveis leitores interessados. Portanto, o PDF do referido livro está disponibilizado no link Livros deste blog.
Krishnamurti pautou toda a sua vida em nortear o ser humano nas questões relativas ao seu viver, encorajando-o a enfrentar os desafios que se apresentam nas relações humanas de forma nova e revolucionária. Segundo ele, a missão que nos cabe é transformar a nós mesmos pelo autoconhecimento. O que significa ficarmos cônscios das nossas ações na vida diária. Nossos pensamentos e sentimentos, que constituem nossa consciência, devem ser observados e examinados passivamente. Isso nos possibilitará afastarmo-nos das danosas “cicatrizes” psicológicas, formadas pela memória. Nessas conferências, os problemas suscitados e analisados pelo conferencista continuam, para nós, atuais e muitos deles agravos.
Até o momento, ninguém nos faz ver de forma tão clara a nossa total responsabilidade nesse processo de autoconhecimento como o Krishnamurti.  Aprendemos com ele a nos livrar da desnecessária dependência de guias, intermediários, ou de instituições organizadas que se propõem a nos religar com a Mente Universal, com a Realidade, com a Verdade, com o Inominável, Deus ou como o quisermos chamá-Lo(a). A partir de suas manifestações, consolidamos a compreensão que o mundo e o indivíduo constituem um processo unitário. O mundo em que vivemos tem nos conduzido a uma Insatisfação generalizada, e com ela vemos surgir em alguns o anelo de transformação que nos traga Felicidade. Estamos convictos que para irmos “Da Insatisfação a Felicidade” é necessário uma transformação radical, e esta certamente começa pela transformação de nós mesmos. JK nos adverte que uma real transformação psicológica é atemporal. Ela não ocorre no devir, no vir a ser, ela pode e deve ser imediata, momento a momento.
Reitero o convite para a leitura do livro de Krishnamurti ora disponibilizado, parodiando o poeta: Transcender é preciso, viver (nas condições que geralmente vivemos) não é preciso.

domingo, 4 de setembro de 2011

Hábitos alimentares


Roberto Lira

         A opção pelo vegetarianismo pode estar vinculada a vários razões. Para alguns, motivos filosóficos que incluem ética, religião, meio ambiente, etc. Para outros, as questões fisiológicas relacionadas à saúde ou a atração/aversão gustativa pode ser o motivo. A adesão a esse tipo de regime alimentar pode ser sustentada por um ou por vários desses motivos.
         Eu já fui vegetariano, por muitos anos, e essa opção era sustentada tanto por razões filosóficas quanto fisiológicas relacionadas à saúde. Não sou mais vegetariano, mas raramente como carnes vermelhas. Dou preferência às carnes brancas, especialmente aos peixes. Nos dias atuais, mesmo ainda tendo simpatia pela causa vegetariana tendo em vista  princípios filosóficos, hoje são as preferências gustativas que me fazem optar por carnes brancas e rejeitar as carnes vermelhas.
         Para “condimentar” essa reflexão sobre hábitos alimentares, reproduzo abaixo o texto do Marcelo Gleiser, publicado na folha de São Paulo neste último domingo.

“MARCELO GLEISER
Você comeria carne de proveta?
Imagine que um dia você vai ao supermercado e encontra, junto aos cortes usuais de carne e galinha, carnes produzidas em laboratório.
Um pouco adiante, vê filés de peixe, também criados artificialmente. Um rótulo amarelo distingue os dois tipos de carne: "natural" e "artificial". Qual você escolheria? 
Mesmo que cientistas garantam que não há diferença hormonal, nutricional ou molecular entre os dois tipos de carne, tenho certeza de que a maioria escolheria carnes naturais. Por que isso?
Pode ser por ecos do que chamo de Síndrome de Frankenstein, o medo irracional de que a ciência foi mais longe do que deveria. Porém, se podemos cultivar vegetais, por que não carnes?
Se isso parece coisa de ficção cientifica, pense de novo. Dezenas de laboratórios estão tentando cultivar carne, partindo de amostras de células musculares (que é o principal do que comemos na carne) alimentadas em soluções que induzem a sua proliferação. Em 1999, o holandês Willem van Eelen registrou patentes internacionais da "produção industrial de carne usando culturas celulares". 
Após muito esforço, van Eelen convenceu o governo holandês a financiar projetos de pesquisa em três universidades, visando aprimorar o desenvolvimento de tecido muscular em laboratório.
"Se bilhões de pessoas parassem de comer animais, que ótimo seria oferecer-lhes carnes obtidas sem o horror do matadouro, dos caminhões, das mutilações, da dor e do sofrimento causados pela produção industrial de carnes", afirmou Ingrid Newkirk, cofundadora e presidente da fundação Peta (Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais). 
Imagino que Newkirk seja a inimiga número um dos produtores de carne. De minha parte, escrever estas linhas reafirma meu compromisso em ser vegetariano.
Fora as vantagens éticas, existem inúmeras vantagens ambientais: a agropecuária consome quantidades enormes de recursos naturais, da água à energia, fora o desmatamento incluído no pacote. 
Quem tiver problemas em comer carnes feitas em laboratório deveria visitar um matadouro e comparar os dois.
Portanto, a possibilidade parece ser óbvia. Supondo que a carne in vitro seja uma realidade num futuro próximo, quantas pessoas estariam dispostas a comê-la? Note que o processo não envolve qualquer manipulação genética, não tendo nada de transgênico. 
A questão envolve a credibilidade da ciência e a sua percepção popular. Quem vai acreditar nos cientistas que trabalham para a indústria de carnes artificiais? 
Como temos visto com a questão do aquecimento global, os dias em que pessoas equiparavam ciência à verdade já estão longe. 
As coisas se complicam quando os cientistas trabalham para empresas privadas. Pense na diferença entre o depoimento de um especialista em câncer de um hospital e o de outro que trabalhe para uma indústria de cigarros. 
Por outro lado, dado que o consumo mundial de carne é de 285 milhões de toneladas por ano, o potencial econômico é gigantesco, mesmo que só uma fração do público esteja disposta a comer carne de proveta.
Alguns cientistas creem que essa seja a solução para o problema da fome mundial: carne artificial, barata e nutritiva. Outros querem só ganhar dinheiro. 
Espera-se que cientistas do governo informem o público das vantagens e desvantagens da carne artificial. Enquanto isso, talvez seja hora de você repensar seus hábitos alimentares.”

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Em busca de significado... sentido para a vida

Roberto Lira

Ontem, lendo um texto do físico Marcelo Gleiser na coluna “Micro Macro” do suplemento “Mais!” da Folha de S. Paulo, intitulado Em busca de significado”, de imediato, a faculdade de recordar me conectou com o período vivido há dois anos. Período esse, onde entrei em sintonia com alguém chamado Cleómenes de Oliveira e por cinco meses estabelecemos profícuos diálogos por meio de emails, com temas relacionados ao texto acima referido. Alguns diálogos foram publicados em um blog da minha terra natal, o blog da CIT, no 2º semestre de 2009.
O texto do Marcelo Gleiser acima mencionando, aborda sinteticamente várias questões relacionadas com os anseios da humanidade, especialmente com aquilo que está no cerne do antagonismo entre ciência e religião. Nesta reflexão, vamos nos limitar a focalizar a questão da busca pessoal de encontrarmos um sentido para vida humana, isso dentro do período finito de nossa existência.
            Em um diálogo publicado no blog da CIT que tratava da existência (http://www.citltda.com/2009/10/dialogo-com-jk-sobre-existencia-humana.html), manifestei naquela época que nas minhas reflexões nunca tinha encontrado um verdadeiro sentido para vida, exceto no que se referia à sobrevivência. Nesta incluía a geração, criação, educação e encaminhamento da própria prole.
 Revendo alguns diálogos com Cleómenes de Oliveira (http://www.citltda.com/2009/11/dialogando-para-salvar-o-olho-de-horus.html http://www.citltda.com/2009/11/tentando-salvar-o-meu-olho.htmlhttp://www.citltda.com/2009/11/ajudando-salvar-nossos-olhos.html), esse especial dialogador naquela época manifestou que já tinha encontrado o sentido da vida e que este era aquele do “carro de bois”, descrito em um trecho da poesia “O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro/Fernando Pessoa:
“Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois
Que vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,
E que para de onde veio volta depois
Quase à noitinha pela mesma estrada.
Eu não tinha que ter esperanças — tinha só que ter rodas...”

Após esses diálogos, o Cleómenes sumiu e também sumiram minhas escrevinhações com reflexões sobre esse tema. Hoje as retomo.
Em uma parte do texto do Marcelo Gleiser, ele manifesta que: Não existe uma solução única para os nossos anseios. Não sei onde você encontra sentido para a sua vida. No meu caso, a busca se desdobra em muitas trilhas.”
Consinto com o pensamento do Gleiser. Realmente, as trilhas são muitas, mas para caminhantes iniciantes como eu, penso ser necessário distinguirmos uma trilha inicial para a caminhada.  Hoje, penso ter encontrado, ou melhor, encontrei um sentido para a minha vida e este sentido é viver aprendendo aqui e agora.
Nesse viver aprendendo aqui e agora, a vida vai ofertando o conhecimento do si mesmo, através do apropriado auto-percebimento nos nossos relacionamentos. Ou seja, meus condicionamentos e medos vão se revelando durante minhas ações e reações, com os semelhantes ou com a natureza, para a minha consciência. A aquisição do conhecimento do si mesmo em cada instante vivido é um processo onde o produto é ofertado à consciência pelas faculdades mentais e sensíveis. Se fosse possível fazer uma analogia desse processo com algum processo físico, escolheria o processo da oferta de oxigênio, através do sangue, às células que dele necessita.  O primeiro dá um sentido para a vida, o segundo garante a vida.
Vamos viver aprendendo, aqui e agora!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Sendeiro e a Religação


Roberto Lira

O conhecimento atual nos aponta um plano determinístico, estabelecido pelos nossos genes, em relação a nossa formação e desenvolvimento físico. Seguir as recomendações consensuais da ciência sobre a condução do nosso corpo físico têm nos permitido maiores possibilidades de realizarmos com sucesso nosso potencial genético, tanto como espécie quanto como indivíduo. As polêmicas sobre essa condução são mínimas ou irrelevantes.
Quando voltamos nossa atenção para um conhecimento que nos indique uma Senda para o nosso desenvolvimento psicológico/espiritual, nos parece que as encruzilhadas são muitas. Mesmo esse Sendeiro sendo procurado desde tempos imemoriais, as polêmicas são infindáveis e as conclusões inconciliáveis.
Tendo em vista que nosso bem estar e desenvolvimento psicológico/espiritual individual é relativo, pois nossa singularidade assim determina, ficamos a refletir qual o caminho ou caminhar que pode nos conduzir a estabelecer uma ligação, ou melhor, uma Religação com um possível Plano Universal, seja ele determinístico ou não.
As tradições por meio de suas doutrinas e/ou rituais condicionantes têm nos apontado diversos caminhos/caminhares para a referida Religação. No nosso ponto de vista até o presente, a constatação dessa realização nestes caminhos carece de evidências. Assim, pensamos que o verdadeiro Sendeiro para essa Religação deve ser encontrado por nossa consciência, com assessoria da razão e do coração. Ele pode até nos ser apontado por alguém que tenha se adiantado no seu caminhar, mas pensamos que ele deve ser  construído por cada individuo no seu viver aqui e agora, portanto é um caminho/caminhar singular, ou seja, pessoal e intransferível. As tradições institucionalizadas ou não, por bem intencionadas que sejam, em nosso ponto de vista só nos tem trazido entorpecimento e submissão.
Frente a essa questão, qual o nosso dever com o próximo?
Pensamos que o ser psicológico/espiritual é construído em seus diálogos com o próximo, e por extensão, em suas relações com a vida como um todo. Desse modo, é nosso dever individual compartilhar com o próximo o que enxergamos desse viver sem exigir que esse próximo, por mais próximo que ele nos seja, siga ou se vincule às nossas convicções.
O Sendeiro certeiro
Não tem cocheiro nem cordeiro
E não é herdeiro do mosteiro
A Religação pode ser apenas suposição ou não
Nossa afirmação é que não é repetição
Essa grande expedição é nossa obrigação!

Atenção! Aqui e agora!


sábado, 21 de maio de 2011

Viver aqui e agora



Roberto Lira

A manifestação viver no aqui e no agora tem se tornado lugar-comum nos tempos atuais. Mas, nos parece que poucos de fato têm consciência quão transcendente pode ser esta frase. Desse modo, o que podemos entender por viver aqui e agora?
Do ponto de vista sintático, o verbo viver – que exerce a função nuclear do predicado da sentença – é primariamente conceituado de ter vida, estar com vida. Os advérbios aqui e agora completam a sentença e situa o verbo viver nas dimensões de espaço (o aqui) e tempo (o agora).
Do ponto de vista transcendente, e prático, entendemos que viver aqui e agora é uma circunstância que o percebimento de um fato e a ação dele decorrente dispensa o passado, o futuro e o alhures e nos atém exclusivamente na realidade presente. Ou seja, é aquilo que vivenciamos sem a interferência de recordações, ideações e no local onde o fato é circunstanciado.
As recordações nos remetem as reminiscências do já vivido, de algo que já se extinguiu e que não tem mais vida.  As ideações, por seu lado, nos projetam para o futuro que é o vir a ser ou o viver no mundo hipotético do “se”. Por outro lado, trazermos o que está além, distante, para a circunstância que se está vivendo é desfigurar a realidade que de fato se apresenta. Tendo em vista essas premissas, ousamos listar algumas ações que nos parece apropriadas para se viver aqui e agora de forma transcendente:
·         Agirmos livre dos condicionamentos que nos faz subordinados aos determinismos ideológicos (políticos/religiosos), moralistas ou egoístas;
·         Reagirmos focalizando nossa percepção na realidade que se apresenta a cada momento;
·         Assimilarmos a realidade que se apresenta sem pré-julgamentos ou idiossincrasias (a auto-atenção passiva talvez nos conduza a essa realização);
·         Mantermo-nos em permanente processo de aprendizagem nas nossas vivências, mesmo naquelas que nos parecem familiar ou que consideramos já aprendidas.
Viver aqui e agora, NÃO sendo uma realidade estática, requer dinamismo e muita energia para acompanharmos, momento a momento, cada uma das nossas vivências. As ocorrências no nosso viver, do ponto de vista da impermanência, podem ser sintetizadas no aforismo de Heráclito: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio nunca é o mesmo e nós nunca somos os mesmos”.
Atenção!  Aqui e agora!