terça-feira, 31 de julho de 2012

O egotismo deteriora a mente

Jiddu Krishnamurti (*)


SERPENTENANDO DE UM LADO ao outro do vale, a trilha passava por uma pequena ponte, a água, de corrente veloz, estava barrenta pelas recentes chuvas. Rumo ao norte, ela passava por suaves encostas até alcançar uma aldeia isolada. Essa aldeia e seus habitantes eram muito pobres. Os cães estavam sujos e latiam à distância, nunca se arriscando a chegar perto, as caudas baixas, as cabeças erguidas, prontos para fugir. Muitas cabras estavam espalhas pela encosta, balindo e comendo os arbustos silvestres. Era uma campina maravilhosa, verde, com montes azulados. O granito que se projetava dos topos dos morros fora lavado pelas chuvas de incontáveis séculos. Esses montes não se elevavam tanto, mas eram muito antigos, e tinham uma beleza fantástica no contraste com o céu azul, aquele estranho encanto do tempo imensurável. Eram como os templos que o homem constrói à sua semelhança, em seu anseio por alcançar o céu. Mas, naquela noite, com o sol poente acima, as colinas pareciam muito próximas. No extremo sul, uma tempestade se formava, e os relâmpagos entre as nuvens davam à terra um atmosfera estranha. A tempestade irromperia durante a noite; mas os montes sobreviveram às tempestades de tempos imemoriais, e sempre estariam lá, para além de toda a labuta e sofrimento do homem.

Os aldeões estavam retornando às suas casas, cansados após um dia de trabalho nos campos. Logo poderíamos ver fumaça subindo de suas cabanas enquanto eles preparavam a refeição da noite, que não seria abundante. Os filhos, à espera de sua refeição, sorriam quando passávamos. Tinham os olhos arregalados e tímidos dos desconhecidos, mas amigáveis. Duas meninas apoiavam bebês em seus quadris enquanto as mães cozinhavam; os bebês escorregavam e logo eram puxados de volta. Embora tivessem 10 ou 12 anos, essas meninas já estavam habituadas a segurá-los; e ambas sorriam. A brisa noturna corria entre as árvores e o gado era recolhido para a noite.

Não havia qualquer outra pessoa naquela trilha, nem mesmo um solitário aldeão. A terra, subitamente, parecia vazia, estranhamente silenciosa. A jovem lua nova acabava de aparecer sobre as escuras colinas. A brisa parou, nenhuma folha se movia; tudo era quieto, e a mente estava completamente só. Não era solitária, isolada, encerrada em seus próprios pensamentos, mas só, intocada, incontaminada. Não era apática e distante, desligada das coisas da Terra. Estava só, e, ainda assim, como tudo; por estar só, tudo era nela. Aquilo que é separado conhece a si mesmo como separado; mas essa solitude não conhecia separação, nenhuma divisão. As árvores, o córrego, o aldeão chamando à distância, todos estavam contidos nela. Não era uma identificação com o homem, com a Terra, pois toda identificação desaparecera por completo. Nessa solitude, cessara o sentido da passagem do tempo.  



Eram três: um pai, seu filho e um amigo. O pai provavelmente estava na casa dos 50 anos, o filho tinha cerca de 30 e o amigo era de idade incerta. Os dois homens mais velhos eram carecas, mas o filho ainda tinha muitos cabelos. Tinha uma cabeça de bonito formato, o nariz um tanto curto e olhos bem separados. Seus lábios eram inquietos, embora ele permanecesse calmamente sentado. O pai se sentou atrás do filho e do amigo, dizendo que tomaria parte na conversa se necessário, mas que, caso contrário, apenas observaria e escutaria. Um pardal chegou à janela aberta e logo partiu novamente, assustado com tantas pessoas na sala. Ele conhecia aquela sala e, muitas vezes, se empoleirava no peitoril, piando baixo, sem medo.

“Embora meu pai talvez não participe da conversa”, o filho começou, “ele deseja estar a par dela, pois o problema preocupa a todos nós. Minha mãe também teria vindo se não estivesse passando tão mal, e está ansiosa para ouvir o que lhe contaremos. Lemos algumas coisas que você disse, e meu pai já compareceu a algumas de suas palestras como ouvinte; mas foi apenas no último ano que de fato me interessei pelo que você diz. Até recentemente, a política absorvia a maior parte de meu interesse e entusiasmo; mas comecei a ver a imaturidade dela. A vida religiosa é apenas para a mente madura, e não para políticos e advogados. Tive bastante sucesso como advogado, mas já não trabalho nessa área, pois quero dedicar os anos restantes de minha vida a algo muitíssimo mais importante e valoroso. Falo também por meu amigo, que quis nos acompanhar quando soube que o visitaríamos. Veja bem, senhor, nosso problema é o fato de que estamos todos ficando velhos. Mesmo eu, apensar de ser relativamente jovem, estou chegando àquele período da vida em que o tempo parece voar, quando um dia parece tão curto e a morte, tão perto. A morte, pelo menos no momento, não é um problema; mas a velhice é.”

O que você entende por velhice? Refere-se ao envelhecimento do organismo físico ou da mente?

“O envelhecimento do corpo é naturalmente inevitável, ele se gasta por uso e doença. Mas a mente precisa se deteriorar e envelhecer?”

Pensar especulativamente é inútil e perda de tempo. A deterioração da mente é uma suposição ou um fato real?

“É um fato senhor. Estou ciente de que minha mente está ficando velha, cansada; ocorre uma lenta deterioração.”

Não será este também um problema entre os jovens, embora eles talvez ainda não estejam cientes disso? Suas mentes já estão confinadas num molde; seu pensamento já está encerrado num estreito padrão. Mas a que você se refere quando diz que sua mente está envelhecendo?

“Ela não é tão maleável, tão alerta, tão sensível como costumava ser. Sua atenção está diminuindo; suas respostas para os muitos desafios da vida partem cada vez mais do arcabouço do passado. Está se deteriorando, funcionando cada vez mais dentro dos limites da sua própria criação.”

Pois bem, o que faz com que a mente se deteriore? É autodefesa e resistência a mudança, não é? Cada um tem um interesse pessoal que vive protegendo – consciente ou inconscientemente –, vigiando, e que não permite que nada venha a perturbar.

“Você quer dizer um interesse pessoal em posses?”

Não só em possuir, mas em relações de qualquer tipo. Nada pode existir em isolamento. A vida é relacionamento; e a mente tem um interesse egotista em sua relação com as pessoas, as ideias e as coisas. Esse egotismo, e a recusa em gerar uma revolução fundamental dentro de si, é o início da deterioração mental. A maioria das mentes é conservadora, resistente à mudança. Mesmo a mente supostamente revolucionária é conservadora, pois, quando alcança seu sucesso revolucionário, também resiste à mudança; a própria revolução se torna seu interesse egotista. Embora ela talvez permita certas modificações nas margens de suas atividades, resiste a todas as mudanças no centro, não importando se é conservadora ou supostamente revolucionária. As circunstâncias podem obrigá-la a ceder, a se adaptar, com dor ou com facilidade, a um padrão diferente; mas o centro continua rijo, e é esse centro que causa a deterioração das mentes.

“O que o senhor chama de centro?”

Você não sabe? Está procurando uma descrição dele?

“Não, senhor. Mas, pela descrição, talvez eu possa tocá-lo, ter uma intuição dele.”

“Senhor”, interveio o pai, “talvez estejamos intelectualmente consciente desse centro, mas, na verdade, a maioria de nós nunca esteve frente a frente com o seu. Eu mesmo li descrições astutas e sutis em vários livros, mas nunca o confrontei realmente; e quando você pergunta se nós o conhecemos, eu posso dizer por mim que não. Conheço apenas as descrições.”

“É de novo nosso interesse egotista”, acrescentou o amigo, “nosso desejo arraigado de segurança, que nos impede de conhecer esses centros. Não conheço meu próprio filho, apesar de ter vivido com ele desde a infância, e conheço menos ainda aquilo que é muito mais próximo do que meu filho. Para conhecê-lo é preciso olhar para ele, observá-lo, ouvi-lo, mas nunca o faço. Estou sempre com pressa; e quando, ocasionalmente, o observo, estou em conflito com ele.”

Estamos falando do envelhecimento, da deterioração da mente. A mente está sempre construindo o padrão de sua própria certeza, a segurança dos seus próprios interesses; as palavras, a forma, a expressão pode variar de tempos em tempos, de cultura a cultura, mas o centro de interesse egotista permanece. É esse centro que faz com que a mente se deteriore, independente do quão alerta e ativa pareça externamente. Esse centro não é um ponto fixo, mas vários pontos contidos na mente, e, portanto, é a própria mente. A melhoria da mente, ou o deslocar-se de um centro a outro, não elimina tais centros; disciplina, repressão ou sublimação de um centro só estabelece outro em seu lugar.

Pois bem, a que nos referimos quando dizemos que estamos vivos?

“Geralmente”, respondeu o filho, “nós nos consideramos vivos quando falamos, quando rimos, quando há sensação, quando há pensamento, atividade, conflito, alegria.”

Então, o que chamamos vida é aceitação ou “revolta” no interior do padrão social, e um movimento dentro da jaula da mente. Nossa vida é uma interminável série de dores e prazeres, medos e frustrações, anseios e apegos; e quando, de fato, consideramos a deterioração dela, e perguntamos se é possível pôr um fim nesse processo, nossa investigação também ocorre dentro da jaula da mente. Isso é viver?

“Temo que não conheçamos outra vida”, disse o pai. “À medida que envelhecemos, os prazeres se reduzem enquanto as tristezas parecem aumentar; e se o indivíduo é minimamente reflexivo, está ciente de que a mente se deteriora com o tempo. O corpo, inevitavelmente, fica velho e conhece a decadência; mas como podemos impedir esse envelhecimento da mente?”

Nós levamos uma vida impensada e, no final, começamos a indagar por que a mente se deteriora e como deter o processo. Certamente, o que importa é como viemos nossos dias, não apenas quando jovens, mas também na meia-idade e durante os anos de declínio. O tipo correto de vida exige de nós muito mais inteligência do que qualquer vocação para ganhar o sustento. Pensar corretamente é fundamental para viver corretamente.

“O que você quer dizer com pensar corretamente?”, perguntou o amigo.

Há uma enorme diferença, sem dúvida, entre pensar corretamente e o pensamento certo. Pensar corretamente é constante percepção; o pensamento certo, por outro lado, é a conformidade a um padrão fixado pela sociedade ou uma reação contra ela. O pensamento certo é estático, é um processo de agrupar certos conceitos, denominados ideais, e segui-los. O pensamento certo, inevitavelmente, constrói a perspectiva autoritária, hierárquica, e engendra a tal respeitabilidade; ao passo que o pensar correto é a percepção de todo o processo de conformidade, imitação, aceitação, revolta. Pensar corretamente, ao contrário do pensamento certo, não é uma coisa a ser alcançada; surge espontaneamente com autoconhecimento, que é a percepção dos mecanismos do “eu”. Pensar corretamente não é algo que possa se aprendido em livros ou com outra pessoa; ele ocorre por intermédio da mente que compreende a si mesma na ação do relacionamento. Mas não pode haver entendimento dessa ação enquanto a mente a justifica ou condena. Portanto, pensar corretamente elimina o conflito e a autocontradição, que são as principais causas da deterioração da mente.

“O conflito não é parte essencial da vida?”, perguntou o filho. “Se não nos esforçássemos, apenas vegetaríamos.”

Achamos que estamos vivos quando nos vemos apanhados no conflito da ambição, quando somos impelidos pela compulsão da inveja, quando o desejo nos empurra à ação; mas tudo isso só leva a maior sofrimento e confusão. O conflito aumenta a atividade autocentrada, ao passo que a compreensão do conflito se dá por meio do pensar correto.

“Infelizmente, esse processo de luta e sofrimento, com certa alegria, é a única vida que conhecemos”, disse o pai. “Temos vislumbres de outro tipo de vida, mas são poucos e esparsos. Ultrapassar essa bagunça e encontrar aquela outra vida é sempre o objeto de nossa busca.”

Buscar aquilo que está além do real é estar preso em ilusão. A existência cotidiana, com suas ambições, invejas e todo o restante, deve ser compreendida; mas compreendê-la exige percepção, pensar corretamente. Não há pensar correto quando o pensamento começa com uma suposição, um preconceito. Partir de uma conclusão ou buscar uma resposta preconcebida põe fim ao pensar correto; assim não há pensar algum. Ou seja, pensar corretamente é a base da virtude.

“Parece-me, colocou o filho, “que pelo menos um dos fatores em todo esse problema da deterioração da mente é a questão da ocupação certa.”

O que você chama de “ocupação certa?”

“Tenho notado, senhor, que aqueles que se tornam inteiramente absorvidos em alguma atividade ou profissão logo se desligam de si mesmos; ficam ocupados demais para pensar em si, o que é uma coia boa.”

Mas tal absorção não é uma fuga de si mesmo? Fugir de si mesmo é uma ocupação errada; é corruptora, gera inimizade, divisão e todo o resto. A ocupação correta vem através do tipo correto de educação e da compreensão de si mesmo. Você nunca reparou que, independentemente da atividade ou profissão, o “eu” usa – consciente ou inconscientemente – como meio para sua própria satisfação, para realizar sua ambição ou para obter sucesso em termos de poder?

“Isso é assim, infelizmente. Parece que usamos tudo o que tocamos para nossa própria promoção.”

É esse interesse egotista, essa constante autopromoção, o que torna a mente mesquinha; e embora sua atividade seja vasta, embora ela esteja ocupada com política, ciência, arte, pesquisa, etc., ocorre um estreitamento do pensar, uma superficialidade que gera deterioração, decadência. Somente quando há compreensão da totalidade da mente, do inconsciente e da consciência, é que existe uma possibilidade de regeneração da mente.

“O materialismo é a maldição da geração moderna”, disse o pai. “Ela é arrastada pelas coisas do mundo, e não reflete seriamente sobre temas sérios.”

Essa geração é como outras gerações. Coisas materiais não são apenas geladeiras, camisas de seda, aviões, aparelhos de televisão e tudo mais; elas incluem ideais, a busca do poder, seja individual ou coletivo, e o desejo de estar seguro, seja neste mundo ou no próximo. Tudo isso corrompe a mente e prova sua decadência. O problema da deterioração deve ser compreendido no começo, na juventude, e não no período de declínio físico. 

“Isso quer dizer que não há esperança para nós?”

De maneira alguma. É mais árduo interromper a deterioração da mente na nossa idade, só isso. Para gerar uma mudança radical em nossos modos de vida, deve haver percepção crescente, e uma grande profundidade de sentimento que é o amor. Com amor, tudo é possível.


(*)   Um dos textos do livro:  Comentários sobre o viver.  Breves textos – Volume 3 /Jiddu Krishnamurti. Rio de Janeiro: Nova Era, 2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Sem bondade e amor, não somos educados


Jiddu Krishnamurti (*)



SENTADO NUMA PLATAFORMA ELEVADA ele tocava um instrumento de sete cordas para uma pequena plateia familiar com um tipo de música clássica. Estavam sentados no chão diante dele; de uma posição às suas costas era tocado outro instrumento de apenas quatro cordas. Era um homem jovem, mas mestre total das sete cordas e da complexa música. Ele improvisava antes de cada canção; depois vinha a composição, sobre a qual haveria mais improviso. Jamais ouviríamos alguma daquelas músicas executada duas vezes da mesma maneira. As letras eram fixas, mas dentro de determinada composição havia grande latitude, e o artista podia improvisar segundo o seu coração; e quanto mais variações e combinações, maior o músico. Nas cordas, palavras não eram possíveis; mas todos que lá estavam conheciam as letras e se extasiavam com elas. Com cabeças meneando e mãos gesticulando com graça, eles seguiam o ritmo perfeitamente e o marcava com uma leve palmada na perna. O músico fechara os olhos e se achava completamente absorto em sua liberdade criativa, e na beleza do som; sua mente e seus dedos estavam em perfeita coordenação. E que dedos! Delicados e rápidos, pareciam ter vida própria. Só se tornavam quietos e relaxados ao fim da música, numa nota particular; mas, com incrível rapidez, logo começavam uma nova melodia, em tonalidade distinta. Quase nos hipnotizavam com sua graça e ligeireza de movimento. E a cordas, que sons lindos emitiam! Eram pressionadas pelos dedos da mão esquerda na tensão apropriada, ao passo que a mão direita as dedilhava com facilidade e controle magistral.

A lua era clara do lado de fora, e as sombras escuras estavam imóveis; o rio se via logo após a janela, um fluxo de prata em contraste com as árvores escuras e silenciosas da outra margem. Uma coisa estranha acontecia no espaço que é a mente. Ela vinha observando os movimentos graciosos dos dedos, ouvindo os doces sons, observado as cabeças que se moviam suavemente e as mãos rítmicas da plateia silenciosa. Subitamente, o observador, o escutador, desapareceu; ele não fora induzido à suspensão pelas melódicas cordas, mas estava totalmente ausente. Havia apenas o vasto espaço que é a mente. Todas as coisas da Terra e do homem estavam nela, mas se encontravam em seus limites exteriores, fracas e remotas. Dentro do espaço no qual nada havia, existia um movimento, e o movimento era a quietude. Era um movimento profundo e vasto, sem direção, sem motivo, que começava nos limites externos e avançava com incrível força ao centro – um centro que se encontra em toda parte no interior da quietude, no interior do movimento que é o espaço. Esse centro é total solicitude, incontaminada, incognoscível, uma solidão que não é isolamento, que não tem fim nem começo. É completa em si mesma, não é inventada; os limites externos estão nela, mas não lhe pertencem. Ela está lá, mas não no interior do escopo da mente humana. É o todo, a totalidade, mas não é abordável.



Havia quatro deles, todos rapazes que tinha aproximadamente a mesma idade, entre 16 e 18 anos. Bastante tímidos, eles precisam de persuasão, mas, uma vez que começaram, mal podiam parar, e suas perguntas ansiosas saiam aos borbotões. Dava para notar que eles haviam conversado sobre tais assuntos entre si com antecedência e prepararam perguntas por escrito; mas, após a primeira ou segunda, esqueceram o que haviam redigido, e suas palavras fluíam livremente dos próprios e espontâneos pensamentos. Embora não fossem filhos de pais abastados, eram imaculados e asseados em seu vestir.

“Quando conversou com os estudantes, há dois ou três dias”, começou o mais próximo, “o senhor disse algo sobre como a educação correta é necessária para que sejamos capazes de encarar a vida. Debatemos esse tema entre nós, mas não compreendemos muito bem.”

Que tipo de educação vocês têm agora?

“Ah, estamos na faculdade, e aprendemos as coisas habituais que são necessárias para determinada profissão”, ele respondeu. “Eu serei engenheiro; meus amigos aqui estudam física, literatura e economia, respectivamente. Estamos cursando o plano de estudos prescrito e lendo os livros indicados, e quando temos tempo, lemos um ou outro romance; mas afora os esportes, estudamos a maior parte do tempo.”

Vocês acham que isso é suficiente para terem boa educação para a vida?

“Pelo que o senhor disse, não”, replicou o segundo. “Mas isso é tudo que temos, e achamos que, de modo geral, estamos sendo educados de modo geral.”

Aprender a ler e escrever apenas, cultivar a memória e passar em algumas provas, adquirir certas capacidade ou habilidades para conseguir um emprego – isso é educação?

“Mas isso não é necessário?”

Sim, preparar-se para ter um meio correto de ganhar o sustento é essencial; mas não é o todo da vida. Há também o sexo, a ambição, a inveja, o patriotismo, a violência e muitas outras coisas. Vocês estão sendo educados para encarar essa vasta coisa chamada vida?

“Quem pode nos educar?” perguntou o terceiro. “Nossos mestres e professores parecem indiferentes. Alguns são inteligentes e cultos, mas nenhum dedica qualquer pensamento a esse tipo de coisa. Somos empurrados para a frente, e teremos sorte se conseguirmos obter nossos diplomas; tudo está se tornando bem difícil.”

“Exceto por nossos impulsos sexuais, que são bastante definidos”, disse o primeiro, “não sabemos nada da vida; todo o resto parece vago e remoto. Ouvimos nossos pais reclamando de falta de dinheiro, e percebemos que eles estão presos em certas rotinas pelo resto de seus dias. Assim, quem pode nos ensinar sobre a vida?”

Ninguém pode lhes ensinar, mas vocês podem aprender. Há uma vasta diferença entre aprender e ser ensinado. Aprender acontece ao longo da vida, ao passo que ser ensinado acaba dentro de algumas horas ou anos – e depois, pelo resto de sua vida, vocês repetirão aquilo que lhes foi ensinado, que logo se torna cinzas mortas; e assim a vida, que é algo vivo, torna-se um campo de batalha de esforços vãos. Vocês são atirados na vida sem tranquilidade ou oportunidade para compreendê-la; antes que saibam qualquer coisa sobre a vida, já estão bem no meio dela, casados, amarrados a um emprego, com a sociedade implacavelmente esbravejando a seu redor. Deve-se aprender sobre a vida desde a mais tenra infância, e não no último instante; quando já estão chegando à idade adulta, é quase tarde demais.

Vocês sabem o que é a vida? Ela se estende do momento em que nascem ao momento em que morrem, e talvez além. A vida é um todo vasto e complexo; é como uma casa em que tudo esta acontecendo a um só tempo. Vocês amam e odeiam; são cobiçosos, invejosos e, ao mesmo tempo, sentem que não deveriam ser. São ambiciosos, e há frustração ou sucesso, seguindo o rastro da angústia, do medo e da crueldade; e, cedo ou tarde, chaga o sentimento da futilidade de tudo isso. E há os horrores e a brutalidade da guerra, e a paz pelo terror; há o nacionalismo e a soberania, que apoiam a guerra; há a morte ao fim da estrada da vida, ou em algum ponto no meio dela. Há a busca por Deus, com suas crenças em conflito e as disputas entre religiões organizadas. Há o esforço para conseguir e manter um emprego; há casamento, filhos, doença e o jugo da sociedade e do Estado. A vida é tudo isso, e muito mais; e vocês são atirados nessa bagunça. Em geral, afundam nela, infelizes e perdidos; e se vocês sobrevivem subindo até o alto da escala, ainda são parte da bagunça. Isso é o que chamamos vida; perpétuo esforço e dor, com um pouco de alegria ocasional. Quem lhes ensinará tudo isso? Ou melhor, como vocês aprenderão sobre ela? Mesmo que tenham capacidade e talento, são atormentados por ambição, pelo desejo de fama, com suas frustrações e infelicidades. Tudo isso é vida, não é assim? E ultrapassar tudo isso também é vida.

“Felizmente, ainda sabemos pouquíssimo sobre toda essa luta”, prosseguiu o primeiro, “mas o que o senhor menciona já está potencialmente em nós. Eu quero ser um engenheiro famoso, quero vencer todos os outros; portanto, tenho de trabalhar duro e conhecer as pessoas certas; preciso planejar, calcular o futuro. Devo abrir meu caminho na vida.”

Aí está. Todos dizem que devem abrir seu caminho pela vida; cada um por si, seja em nome dos negócios, da religião ou do país. Você quer ser famoso, e o mesmo quer o seu vizinho, e o mesmo quer o vizinho dele; e é assim com todos, desde o mais alto ao mais baixo na Terra. Assim, construímos uma sociedade baseada em ambição, inveja e aquisição, em que cada homem é inimigo do outro; e vocês são “educados” para se conformar a essa sociedade em desintegração, para se encaixar em sua estrutura perversa.

“Mas o que podemos fazer?” perguntou o segundo. “Acho que devemos nos conformar à sociedade ou ser destruídos. Existe alguma saída para isso, senhor?”

No presente, vocês são supostamente educados para se encaixar nessa sociedade; suas capacidades são desenvolvidas para ganhar o sustento dentro desse padrão. Seus pais, os educadores, o governo, todos estão preocupados com sua eficiência e segurança financeira, não estão?

“Não sei do governo, senhor”, comentou o quarto, “mas nossos pais gastam o dinheiro arduamente ganho para permitir que tenhamos um diploma universitário, para que possamos obter uma forma de sustento. Eles nos amam.”

Amam mesmo? Vejamos. O governo deseja que vocês sejam eficientes burocratas para dirigir o Estado, bons trabalhadores industriais para manter a economia e soldados capazes de matar “o inimigo”. Não é assim?

“Suponho que o governo queira isso. Mas nossos pais são mais bondosos; eles pensam em nosso bem-estar e querem que sejamos bons cidadãos.”

Sim, eles querem que vocês sejam “bons cidadãos”, o que significa ser respeitavelmente ambicioso, perpetuamente acumulador e participante da crueldade socialmente aceita que se chama competição, para que eles possam estar seguros. Isso é o que constitui o assim chamado bom cidadão; mas será de fato bom, ou algo muito maléfico?  Vocês dizem que seus pais os amam; mas será mesmo? Não estou sendo cínico. O amor é uma coisa extraordinária; sem ele a vida é estéril. Vocês podem ter muitas posses e ocupar o trono do poder, mas, sem a beleza e a grandeza do amor, a vida logo se torna infelicidade e confusão. Amor indicaria que aqueles que são amados recebem total liberdade para crescer em sua plenitude, para ser algo maior do que meras máquinas sociais, não é? O amor não obriga, nem abertamente nem por ameaças sutis de deveres e responsabilidades. Onde há qualquer forma de coerção ou uso de autoridade, não há amor.

“Não acho que este seja o tipo exato de amor de que meu amigo estava falando”, disse o terceiro. “Nossos pais nos amam, mas não dessa maneira. Conheço um garoto que quer ser artista, mas o pai quer que ele seja um homem de negócios e ameaça abandoná-lo se o filho não cumprir esse dever.”

O que os pais chamam de dever não é amor, é uma forma de coerção; e a sociedade apoiará os pais, pois o que eles estão fazendo é muito respeitável. Os pais estão ansiosos para que o menino encontre um emprego seguro e ganhe algum dinheiro; mas, com uma população tão enorme, há mil candidatos para cada emprego, e os pais acham que o menino jamais ganharia seu sustento com arte; portanto tentam forçá-lo a abandonar o que veem como um capricho tolo. Consideram uma necessidade que ele se conforme à sociedade, que seja respeitável e seguro. Isso é o chamam de amor. Mas será? Ou é medo, coberto pela palavra “amor”?

“Quando você coloca dessa maneira, não sei o que dizer”, replicou o terceiro.

Existe alguma outra maneira de colocar? O que acabou de ser dito pode ser desagradável, mas é um fato. A chamada educação que vocês têm agora, obviamente, não os ajuda a encarar esse vasto complexo da vida; vocês chegam despreparados e são engolidos por ele.

“Mas quem pode nos educar para compreender a vida? Não temos tais mestres, senhor.”

O educador também deve ser educado. Os mais velhos dizem que vocês, a próxima geração, devem criar um mundo diferente, mas eles não acreditam nisso, de modo algum. Pelo contrário, com muito pensamento e cuidado, eles se dedicam a “educá-los” a se conformarem ao velho padrão, com alguma modificação. Embora digam coisas muito diferentes, os professores e pais, apoiados pelo governo e pela sociedade em geral, garantem que vocês sejam treinados de modo que se conformem à tradição e aceitem a ambição e a inveja como o modo natural de vida. Não estão minimamente preocupados com um novo modo de vida, e é por isso que o próprio educador não está sendo corretamente educado. A geração mais velha criou esse mundo de guerra, este mundo de antagonismo e divisão entre homem e homem, e a nova geração segue aplicadamente em seus passos.

“Mas nós queremos ser educados corretamente, senhor. O que podemos fazer?”

Antes de tudo vejam, claramente um fato simples: que nem o governo, nem seus presentes professores, nem seus pais se interessam por educá-los corretamente; se fosse o caso, o mundo seria completamente diferente, não haveria guerra. Assim, se vocês querem ser corretamente educados, terão de fazê-los sozinhos; e quando forem adultos, vocês se certificarão de que seus próprios filhos sejam corretamente educados.

“Mas como podemos nos educar corretamente? Precisamos de alguém para nos ensinar.”

Vocês têm professores para instruí-los em matemática, literatura e outras coisas, mas a educação é algo mais profundo e amplo que o mero acúmulo de informações. Educação é o cultivo da mente de modo que a ação não seja autocentrada; é aprender ao longo da vida a derrubar as paredes que a mente constrói para estar segura, e de onde surge o medo com todas as suas complexidades. Para serem corretamente educados, vocês têm de estudar muito e não ter preguiça. Sejam bons em jogos, não para vencer o outro, mas para se divertir. Comam a comida certa, e mantenham-se fisicamente saudáveis. Deixem que sua mente esteja alerta e capaz de lidar com os problemas da vida, não como hindu, comunista ou cristão, mas como ser humano. Para serem corretamente educados, vocês devem compreender a si mesmos; têm de seguir aprendendo sobre si mesmo. Quando param de aprender, a vida se torna feia e infeliz. Sem bondade e amor não somos corretamente educados.  


(*)   Um dos textos do livro:  Comentários sobre o viver.  Breves textos – Volume 3 /Jiddu Krishnamurti. Rio de Janeiro: Nova Era, 2012

terça-feira, 24 de julho de 2012

Condicionamento e anseio por ser livre


Jiddu Krishnamurti (*)

ERA UM PASSEIO ENCANTADOR. A trilha da casa atravessava o vinhedo, e as uvas apenas começavam a amadurecer; eram abundantes e suculentas e produziriam grande quantidade de vinho tinto. O vinhedo era bem cuidado e não havia qualquer erva daninha. Ao seu lado, estava a cuidadíssima plantação de tabaco, longa e ampla. Após a chuva, das plantas começavam a brotar flores rosadas, perfeitas e limpas; seu aroma frágil de tabaco fresco, tão diferente do cheiro nauseante do tabaco queimado, tornar-se-ia mais intenso sob o sol forte. Os longos talos em que cresciam as flores logo seriam cortados para fazer com que as pálidas folhas verde-prateadas, já bastante grandes, estivessem ainda maiores e mais abundantes na época da colheita. Depois, elas seriam reunidas, classificadas, atadas com longas cordas e penduradas no comprido armazém atrás da casa, para secar de modo uniforme, onde o sol as tocaria, e haveria brisa noturna. Naquele instante, homens já trabalhavam com bois na plantação de tabaco, abrindo sulcos entre as longas e eretas plantas enfileiradas para matar ervas daninhas. O solo fora cuidadosamente preparado e pesadamente adubado, e ervas daninhas haviam crescido nele de modo tão abundante quanto os pés de tabaco; mas, após todas essas semanas, não havia uma única erva daninha à vista.  

A trilha avançava por um pomar de pés de pêssegos, peras, ameixas vermelhas e amarelas, nectarinas e outras árvores, todas carregadas de frutas maduras. Ao entardecer, havia um doce aroma no ar, e durante o dia, o zumbido de muitas abelhas. Além do pomar, a trilha descia uma longa encosta, aprofundando-se em bosques densos e acolhedores. Aqui a terra era macia sob os pés, coberta de folhas mortas de muitos verões. Ficava muito fresco sob as árvores, pois o sol tinha pouca chance de penetrar a espessa folhagem; o solo estava sempre úmido e perfumado, emanando o aroma do rico húmus. Havia muitos cogumelos, a maioria de espécies não comestíveis. Aqui e ali era possível encontrar tipos comestíveis, mas será necessário procurar bem; eles ficavam mais recolhidos, em geral escondidos sob uma folha da mesma cor. Os camponeses chegavam cedo para levá-los para o mercado ou pra o próprio consumo.

Quase não havia pássaros naqueles bosques, que se estendia por milhas sobre as colinas suavemente onduladas. Era muito silencioso; nem mesmo uma leve brisa agitava as folhas. Mas algum movimento sempre estava acontecendo naquela mata, como parte do imenso silêncio; não era perturbador, e parecia aumentar a tranquilidade da mente. As árvores, os insetos, as enormes samambaias não eram separadas, como algo visto de fora; eram parte daquela quietude, interna e externamente. Até o ruído abafado de um trem distante estava contido nessa paz. Havia completa ausência de resistência, e os latidos de um cão, insistentes e penetrantes, pareciam aumentar o sossego.

Além do bosque, ficava o rio, sinuoso e adorável. Não era muito largo ou impressionante, mas amplo na medida justa para permitir que olhos aguçados avistassem as pessoas na margem oposta. Ao longo de ambas as margens, havia árvores, principalmente choupos, altos e majestosos, com as folhas tremulando na brisa. A água era profunda e fresca, sempre fluindo. Era algo belo de se contemplar, cheio de vida e abundância. Havia um pescador solitário sentado num banquinho, com uma cesta de piquenique a seu lado e um jornal sobre os joelhos. O rio trazia contentamento e paz, ainda que os peixes parecessem evitar a isca. O rio sempre estaria lá, mesmo que guerras acontecessem e homens morressem; ele sempre estaria nutrindo a terra e as pessoas. Ao longe, assomavam as montanhas nevadas e, num entardecer desanuviado, quando o sol poente as tocava, seus picos altos eram vistos como nuvens iluminadas pelo sol.

Éramos três ou quatro na sala, e logo além da janela havia um gramado amplo e resplandecente. O céu era de um azul pálido, com grande e movimentadas nuvens.

“Será realmente possível”, indagou o homem, “que a mente se livre de seu condicionamento? Se for, qual é o estado de uma mente que se descondicionou? Ouvi suas palestras durante vários anos, e dediquei muita reflexão ao assunto, mas minha mente não parece capaz de romper com as tradições e ideias que foram implantadas na infância. Sei que sou tão condicionado quanto qualquer outra pessoa. Desde a infância, somos ensinados a nos conformar – brutalmente, ou com carinho e sugestões gentis – até que a conformidade se torna instintiva, e a mente teme a insegurança de não se conformar.

“Tenho uma amiga que cresceu em ambiente católico”, continuou ele, “e, naturalmente, ela ouviu falar sobre o pecado, o fogo do inferno, as alegrias confortadores do céu e tudo mais. Ao chegar à maturidade, e depois de muito pensar, ela abandonou a estrutura católica de pensamento; mas, mesmo agora, na vida adulta, ela se vê influenciada pela ideia do inferno, com seus pavores contagiantes. Embora minha formação seja um tanto diferente na superfície, tal como ela, também tenho medo de não me conformar. Vejo o absurdo do conformismo, mas não consigo me livrar dele; e, mesmo que pudesse, provavelmente estaria fazendo o mesmo de outra forma – simplesmente me conformando a um no novo molde.”

“Essa também é minha dificuldade”, disse uma das senhoras. “Vejo com bastante clareza as muitas maneiras pelas quais estou presa à tradição; mas será que posso me livrar de meu presente cativeiro sem recair em outro? Há pessoas que passam de uma organização religiosa a outra, sempre buscando, nunca satisfeitas; e quando finalmente, ficam satisfeitas, tornam-se terrivelmente chatas. Provavelmente, é o que acontecerá comigo se eu tentar romper com meu presente condicionamento: sem perceber, serei arrastada par outro padrão de vida.”

“Na verdade”, continuou o homem, “a maioria de nós nunca pensou profundamente sobre como a mente é quase completamente moldada pela sociedade e pela cultura em que crescemos. Não nos damos conta de nosso condicionamento, e simplesmente prosseguimos, lutando, buscando, ou sendo frustrados nos moldes de determinada sociedade. Esse é o destino de quase todos nós, incluindo políticos e lideres religiosos. Infelizmente para mim, talvez, compareci a muitas de suas palestras, e logo começou a dor do questionamento. Durante algum tempo, não pensei no assunto com profundidade, mas, de repente, vi que me tornava sério. Andei experimentando, e agora estou consciente de muitas coisas em mim que jamais havia notado. Se eu puder continuar sem os que os presentes sintam que estou tagarelando demais, gostaria de me aprofundar um pouco mais na questão do condicionamento.”

Quando os outros lhe garantiram que também estavam profundamente interessados nesse tema, ele prosseguiu.

“Após ouvir ou ler a maioria das coisas que você disse, percebi o quanto sou condicionado; e, da mesma maneira, vi que um indivíduo deve livrar-se do condicionamento – não apenas do condicionamento da mente superficial, mas também do inconsciente. Percebi a absoluta necessidade disso. Mas o que realmente está ocorrendo é o seguinte: o condicionamento que recebi em minha juventude continua, e, ao mesmo tempo, há um forte desejo de me descondicionar. Assim, minha mente está presa nesse conflito entre o condicionamento que percebo e a ânsia por me livrar dele. Essa é minha situação atual. Como devo proceder agora?”

O anseio da mente por se libertar do condicionamento põe em marcha outro padrão de resistência e condicionamento, não?  Ao se tornar consciente do padrão ou molde em que cresceu, você deseja libertar-se dele; mas esse desejo de liberdade não condicionará a mente mais uma vez, de maneira diferente? O antigo padrão insiste que se conforme à autoridade, e, agora você está desenvolvendo uma nova autoridade, que insiste que você não deve se conformar; assim, você tem dois padrões em conflito entre si. Enquanto houver essa contradição interna, mais condicionamentos ocorrerão.

“Sei que o antigo padrão é completamente absurdo e morto, e que preciso libertar-me dele; caso contrário, minha mente continuará da mesma maneira estúpida.”

Sejamos pacientes e nos aprofundemos na questão. A velha regra lhe dizia para se conformar, e por diversas razões – medo da insegurança, entre outras, – você se adaptou. Pois bem, por razões de um tipo distinto, mas nas quais ainda há medo e desejo de segurança, você sente que não deve se conformar. É isso que ocorre, não?

“Sim, mas ou menos. Mas o antigo é estúpido, e eu tenho de me livrar da estupidez.”

Permita-me destacar que você não está ouvindo. Segue insistindo que o antigo é mau, e que você precisa do novo. Mas alcançar o novo não é o problema, em absoluto.

“Esse é meu problema, senhor.”

Será? Você acredita nisso, mas vejamos. Por favor, não prossiga com seus pensamentos sobre o problema, apenas ouça, pode ser?

“Vou tentar.”

Uma pessoa se conforma instintivamente por várias razões: por apego, medo, desejo de recompensa e assim por diante. Essa é a primeira reação de um indivíduo. Porém, chega alguém e diz que o indivíduo deve se livrar do condicionamento, e daí surge o anseio por não se conformar. Está entendendo?

“Sim, senhor, isso está claro.”

Pois bem, há alguma diferença essencial entre o desejo de se conformar e o anseio por libertar-se da conformidade?

“Parece que deveria haver, mas realmente não sei. O que me diz, senhor?”

Não cabe a mim dizer, nem a você aceitar. Será que você não tem de descobrir por si mesmo se existe alguma diferença fundamental entre esses dois desejos aparentemente opostos?

“Como posso descobrir?”

Ao não condenar o primeiro nem buscar ansiosamente o segundo. Qual é o estado da mente que anseia por se livrar da conformidade, e que a rejeita? Por favor, não me responda, apenas sinta, realmente vivencie esse estado. As palavras são necessárias para a comunicação, mas não são a experiência real. A menos que você realmente vivencie e compreenda esse estado, seus esforços por se libertar só provocarão a formação de outros padrões. Não é assim?

“Não compreendo muito bem.”

Certamente, não dar fim completo ao mecanismo que produz padrões, moldes, sejam eles positivos ou negativos, implica continuar num padrão ou condicionamento modificado.

“Eu compreendo isso verbalmente, mas não o sinto de fato.”

Para um homem faminto, a mera descrição da comida não tem valor; ele deseja comer.

Há o anseio que forma a conformidade e o anseio por ser livre. Independente do quão diferentes pareçam dois anseios, não são fundamentalmente semelhantes? E, se assim são, então sua busca por liberdade é vã, pois você apenas se deslocará de um padrão a outro, incessantemente. Não há qualquer condicionamento nobre, ou melhor, todo condicionamento é dor. O desejo de ser, ou de não ser, gera condicionamento, e é esse desejo que deve ser compreendido.


(*)  Um dos textos do livro:  Comentários sobre o viver. Breves textos – Volume 3 / Jiddu Krishnamurti. Rio de Janeiro: Nova Era, 2012.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Atento na "correnteza do rio"


Roberto Lira
 Faz algum tempo, escrevinhei dois textos  ( aqui* e aqui** ) com o assunto “a outra margem do rio”. No primeiro texto, o tema foi conceituado como um local procurado pelos seres humanos, onde a felicidade é permanente e que para muitos é chamado de céu, paraíso, nirvana, et cetera. Nele, tentei reflexionar sobre “como” alçar a referida margem. No segundo texto, procurei fazer um analogismo das minhas vivências com o tema e levantei uma série de questões sobre o mesmo. Conclui manifestando minha aspiração de alcançar “a outra margem do rio” e aventei a possibilidade de voltar a escrevinhar sobre futuras compressões decorrentes desse processo. Nesta escrevinhação, é este o propósito.

Tentando vivenciar o aqui e agora, as compreensões do momento me conduzem a cessação da busca em alcançar “a outra margem do rio”. Passei apenas a apreciar a correnteza do rio, ou seja, a ficar passivamente atento observando o correr da vida e, quando oportuno, dar umas braçadas a favor da correnteza. Desse modo, tenho me sentido mais leve como “nadador”.

Em qualquer ambiente aquático, nadar torna-se muito mais fácil quando estamos despidos de qualquer roupagem. Nadar sem um estilo pré-determinado nas correntezas da vida nos permite uma locomoção apropriada em todos os momentos do viver. Sem pré-conceitos, sem recordes a bater, sem prêmios a ganhar, sem glórias a lembrar, sem objetivos a alcançar, nadar nesse rio da vida torna-se algo incomum. Algo que não é repetição, conformidade, alegria ou tristeza, prazer ou dor, mas simplesmente viver. Viver sem querer ter nem ser. Viver por viver, porque é maravilhoso viver, com ou sem insigths.
A atenção, no aqui e agora, deve continuar!

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A felicidade criativa


Jiddu Krishnamurti (*)

 EXISTE UMA CIDADE às margens do majestoso rio. Amplos e longos degraus levam até a beira d´água e o mundo todo parece viver neles. Desde cedo pela manhã até bem depois de escurecer eles estão sempre fervilhando com pessoas e ruídos; quase no mesmo nível da água, existem pequenos degraus protuberantes nos quais as pessoas sentam-se e se perdem em suas esperanças e anseios, em seus deuses e cânticos. Os sinos do templo tocam, o muezim chama; alguém canta e uma enorme massa de pessoas reúne-se, ouvindo em silêncio respeitoso.

Além disso tudo, depois da curva e subindo o rio, há um amontoado de edifícios. Com suas avenidas arborizadas e amplas ruas, eles se estendem por vários quilômetros para o interior; e, ao longo do rio, por uma alameda estreita e suja, a pessoa entra nesse vasto campo de aprendizagem. Muitos alunos de todas as partes do país estão lá, ansiosos, ativos e barulhentos. Os professores são imponentes, tramando por melhores cargos e salários. Ninguém parece estar muito preocupado com o que acontecerá com os alunos quando eles forem embora. Os professores transmitem certos conhecimentos e técnicas que os mais inteligentes rapidamente absorvem; e, quando eles se formam, isso é tudo. Eles têm empregos garantidos, têm famílias e segurança; mas, quando os alunos vão embora, precisam enfrentar a agitação e a insegurança da vida. Existem esses edifícios, esses professores e alunos por toda parte. Alguns alunos alcançam fama e reconhecimento no mundo; outros respiram, lutam e morrem. O Estado quer técnicos competentes, administradores para guiarem e controlarem; e ainda há o Exército, a Igreja e os negócios. No mundo inteiro, é igual.

É para aprender uma técnica e ter um emprego, uma profissão, que passamos por esse processo de ter a mente superficial recheada de fatos e conhecimentos, não é? Obviamente, no mundo moderno, um bom técnico tem mais chance de ganhar a vida; mas e daí? Alguém que seja um técnico está mais capacitada a enfrentar o complexo problema de viver do que um que não o seja? Uma profissão é apenas uma parte da vida; mais existem também aquelas partes que são ocultas, sutis e misteriosas. Enfatizar uma e negar ou negligenciar o restante deverá levar inevitavelmente a atividades muito desequilibras e desintegradoras. É isso precisamente o que está acontecendo no mundo atual, com o aumento constante de conflitos, confusões e infelicidade. Claro que existem algumas exceções: os criativos, os felizes, aqueles que estão em contato com algo que não é criado pelo homem, que não dependem daquilo que pertence à mente.

Você e eu temos intrinsecamente a capacidade de sermos felizes, criativos, de estarmos em contato com algo que transcenda as garras do tempo. A felicidade criativa não é uma dádiva reservada a poucos; por que, então, a maioria não conhece essa felicidade? Por que alguns parecem manter contato com o que é profundo apesar das circunstâncias e dos acasos, ao passo que outros são destruídos por eles? Por que alguns se mostram resistentes, maleáveis, enquanto outros permanecem inflexíveis e são destruídos? Apesar do conhecimento, alguns mantêm a porta aberta para aquilo que nenhuma pessoa e nenhum livro pode oferecer, enquanto outros são sufocados pela técnica e pela autoridade. Por quê? Está relativamente claro que a mente deseja ficar presa e garantida em algum tipo de atividade, negligenciando assuntos mais profundos e amplos, pois desse modo, estará em terreno mais seguro; então, sua educação seus exercícios e suas atividades serão estimulados e sustentados nesse nível e desculpas serão encontradas para que não avancem além disso.

Antes de serem contaminadas pela suposta educação, muitas crianças estão em contato com o desconhecido; elas demonstram isso de muitas maneiras. Mas logo o ambiente começa a fechar-se em torno delas e, depois de certa idade, elas perdem aquela luz, aquela beleza que não é encontrada em livros ou escolas. Por quê? Não diga que a vida é demais para elas, que elas têm de enfrentar a dura realidade, que é o carma delas, que é o pecado dos pais delas; tudo isso é bobagem. A felicidade criativa não tem valor no mercado; não é uma mercadoria para ser vendida pelo melhor preço e é a única coisa que pode existir para todos.

A felicidade criativa é concretizável? Ou seja, a mente pode estar em contato com aquilo que é a fonte de toda a felicidade? Essa abertura pode ser mantida apesar do conhecimento e da técnica, apesar da educação e da afobação da vida? Ela pode, mas apenas quando o educador é preparado para essa realidade, somente quando aquele que ensina está, ele mesmo, em contato com a fonte da felicidade criativa. Então nosso problema não é o aluno, a criança, mas o professor e o pai. A educação só é um circulo vicioso quando não percebemos a importância, a necessidade essencial acima de tudo mais, dessa suprema felicidade. Afinal, estar aberto à fonte de toda a felicidade é a religião superior; mas, para concretizar essa felicidade, você precisa dar a atenção correta a ela, como dá aos negócios. A profissão de professor não é um simples trabalho rotineiro, mas a expressão da beleza e da alegria, que não pode ser medida em termos de realizações e sucesso.

A luz da realidade e sua bem-aventurança são destruídas quando a mente, que é o centro do ser, assume o controle. O autoconhecimento é o início da sabedoria; sem autoconhecimento o aprendizado conduz a ignorância, discórdia e tristeza.


(*) Um dos textos do livro: Comentários sobre o viver. Breves textos – Volume 2 /Jiddu Krishnamurti. Rio de Janeiro: Nova Era, 2009


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Sensação e felicidade


Jiddu Krishnamurti (*)

ESTÁVAMOS BEM ALTO sobre o oceano verde, e o barulho das hélices batendo no ar e o ruído do motor dificultavam a conversa. Além disso, havia alguns universitários dirigindo-se a um encontro de atletismo na ilha; um deles tinha um banjo, e o tocou e cantou por muitas horas. Atiçou os outros e todos se uniram para cantar. O rapaz com o banjo tinha uma boa voz e as músicas eram americanas, canções populares, regionais ou de jazz. Faziam tudo muito bem, exatamente como nos discos. Formavam um grupo estranho, preocupados apenas com o presente; eles não tinham um único pensamento em nada além do divertimento imediato. O amanhã continha todos os problemas: emprego, casamento, velhice e morte. Mas aqui, bem alto sobre o mar, havia músicas americanas e as revistas em quadrinhos. Eles ignoraram o relâmpago entre as nuvens escuras e não viram a curva da terra enquanto ela acompanha o mar, nem a cidade distante ao sol.
A ilha estava quase embaixo de nós agora. Era verde e reluzente, recém-lavada pelas chuvas. Como tudo era limpo e arrumado daquela altura! O morro mais alto era achatado e as ondas brancas não tinha movimento. Um barco pesqueiro marrom com velas se apressava antes da tempestade; ele alcançaria a segurança, pois o porto estava à vista. O rio sinuoso descia até o mar e a terra marrom-dourada. Naquela altura avistava-se o que estava acontecendo em ambos os lados do rio, e o passado e o futuro se encontravam. O futuro não estava oculto, embora estivesse depois da curva. Naquela altura não havia o passado nem o futuro; o espaço curvo não escondia nem o tempo de semear nem o tempo de colher.
O homem na outra poltrona começou a falar das dificuldades da vida. Ele reclamava do emprego, das viagens constantes, da falta de consideração de sua família e da futilidade da política moderna. Dirigia-se a algum lugar distante e estava bastante triste em deixar seu lar. Enquanto falava, foi ficando cada vez mais sério, cada vez mais preocupado com o mundo e especialmente consigo mesmo e com a família.
“Eu gostaria de me afastar de tudo isso e ir para algum lugar tranquilo, trabalhar um pouco e ser feliz. Não acho que tenha sido feliz em toda a minha vida, e não sei o que isso quer dizer. Vivemos, procriamos, trabalhamos e morremos, como qualquer outro animal. Perdi todo o entusiasmo, exceto por fazer dinheiro, e isso também está se tornando bastante entediante. Eu sou razoavelmente bom em meu trabalho e ganho um bom salário, mas não tenho a menor ideia do que tudo isso significa. Gostaria de ser feliz, o que você acha que posso fazer a respeito?”
Esse é um assunto complexo de entender, e dificilmente esse é o lugar para uma conversa séria.
“Temo não ter uma hora melhor; no momento em que pousarmos, precisarei decolar novamente. Posso não parecer sério, mas há pontos de seriedade em mim; o único problema é que eles nunca parecem se unir. Sou realmente sério interiormente. Meu pai e meus parentes mais velhos eram famosos pela seriedade, mas as atuais condições econômicas não permitem que alguém seja completamente sério. Tenho me afastado de tudo, mas gostaria de voltar a isso e esquecer toda a estupidez. Suponho que seja fraco e que reclamo das circunstâncias; mas, mesmo assim, gostaria de ser realmente feliz.”
Sensação é uma coisa e felicidade é outra. A sensação está sempre buscando mais sensação, sempre em círculos cada vez mais amplos. Não há fim para os prazeres da sensação; eles se multiplicam, mas sempre existe insatisfação em sua gratificação; sempre há o desejo por mais, e este é interminável. Sensação e insatisfação são inseparáveis, pois o desejo por mais as une. Sensação é o desejo por mais e também o desejo por menos. No próprio ato de satisfazer uma sensação, nasce a demanda por mais. O mais está sempre no futuro; é a insatisfação permanente com o que foi. Há conflito entre o que foi e o que será. Sensação é sempre insatisfação. Pode-se vestir a sensação em trajes religiosos, mas ela ainda será o que é: uma coisa da mente e uma fonte de conflito e apreensão. Sensações físicas estão sempre implorando por mais; e quando são frustradas, existe raiva, ciúme, ódio. Há prazer no ódio, e o ciúme é gratificante; quando alguém é frustrado, a satisfação é encontrada no próprio antagonismo que a frustração criou.
A sensação é sempre uma reação que vaga de uma reação para outra. Quem vaga é a mente; a mente é a sensação. A mente é o depósito das sensações, agradáveis ou desagradáveis, e toda experiência é reação. A mente é memória, que afinal de contas é reação. As reações ou sensações jamais podem ser satisfeitas; a reação jamais pode estar contente. A reação é sempre negação, e o que não existe jamais poderá ser. A sensação não conhece contentamento. A sensação e a reação devem sempre gerar conflito, e o próprio conflito é mais sensação. Confusão produz confusão. A atividade da mente, em todos os seus diferentes níveis, é ajudar a expandir a sensação; e quando essa expansão é negada, ela encontra gratificação na contração. A sensação, a reação, são o conflito dos opostos; e nesse conflito de resistência e aceitação, cedendo e rejeitando, existe a satisfação, que sempre busca mais satisfação.
A mente jamais pode encontrar felicidade. Felicidade não é uma coisa a ser buscada e encontrada, como a sensação. A sensação pode ser encontrada repetidamente, pois está sempre sendo perdida; mas a felicidade não pode se encontrada. Felicidade lembrada é somente uma sensação, uma reação do presente ou contra ele. O que acaba não é felicidade; a experiência da felicidade que termina é sensação, pois recordação é o passado e o passado é sensação Felicidade não é sensação.
Você já percebeu estar feliz?
“Claro que sim, graças a Deus, de outra forma eu não saberia o que é ser feliz.”
Certamente, aquilo que percebia era a sensação de uma experiência que você chama de felicidade; mas isso não é felicidade. O que você conhece é o passado, não o presente; e o passado é sensação, reação, memória. Você lembra que era feliz; e pode o passado dizer o que é felicidade? Ele pode lembrar mas não pode ser. Reconhecimento não é felicidade; saber o que é ser feliz não é felicidade. O reconhecimento é a reação da memória; e pode a mente, o complexo de memórias, de experiências, ser feliz? O próprio reconhecimento impede a experienciação.
Quando você percebe que é feliz, há felicidade? Quando há felicidade, você está atento a ela? A conscientização só vem com conflito, o conflito da recordação do “mais”. A felicidade não é a recordação do “mais”. Onde há conflito, a felicidade não está presente. Conflito é onde a mente está. O pensamento, em todos os níveis, é a reação da memória, e assim o pensamento, invariavelmente, produz conflito. Pensamento é sensação e sensação não é felicidade. As sensações sempre buscam gratificações. A finalidade é a sensação, mas a felicidade não é finalidade; ela não pode ser buscada.
“Mas como as sensações podem acabar?”
Acabar com as sensações é convidar a morte. Mortificação é só uma outra forma de sensação. Na mortificação, física ou psicológica, a sensibilidade é destruída, mas não a sensação. O pensamento que mortifica a si mesmo estão só em busca de outras sensações, pois o próprio pensamento é sensação.  Ele jamais pode pôr fim à sensação; pode ter sensações diferentes, em outros níveis, mas não encontra fim para elas. Destruir a sensação é estar insensível, morto; não ver, não cheirar, não tocar é estar morto, que é isolamento. Nosso problema é inteiramente diferente, não é? O pensamento jamais pode trazer felicidade; ele pode somente lembrar sensações, pois o pensamento é sensação. Ele não pode cultivar, produzir ou avançar em direção à felicidade. O pensamento só pode ir em direção àquilo que conhece, mas o conhecido não é felicidade; o conhecido é sensação. Faça o que fizer, o pensamento não pode ser feliz ou buscar felicidade. O pensamento só pode estar atento a sua própria estrutura, a seu próprio movimento. Quando o pensamento se esforça para dar um fim a si mesmo, está somente buscando ser bem-sucedido, alcançar uma meta, um fim que será mais gratificante. O “mais” é conhecimento, mas não felicidade. O pensamento deve estar atento a seus próprios mecanismos, a seus próprios enganos astutos. Ao estar atenta a si mesmo, sem qualquer desejo de ser ou não ser, a mente chega a um estado de inação. Inação não é morte, é uma vigilância passiva na qual o pensamento está totalmente inativo. É o estado mais elevado de sensibilidade. Quando a mente está completamente inativa, em todos os seus níveis, só então há ação. Todas as atividades da mente são meras sensações, reação a estímulos, a influências, e portanto não são absolutamente ações. Quando a mente está sem atividade, há ação; essa ação é sem causa, e somente aí existe a felicidade perfeita.


(*) Um dos textos do livro: Comentários sobre o viver. Breves textos – Volume 1 /Jiddu Krishnamurti. Rio de Janeiro: Nova Era, 2007