terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

O observador e a coisa observada



Roberto Lira

O observador e o observado é um tema que sempre atraiu nosso interesse. Sei que a minha compreensão sobre o assunto é ainda muito limitada. Mas, tendo em vista que o pouco compreendido tem sido de grande valia no processo de conhecer a mim mesmo, vou ousar escrevinhar algo sobre o tema.
Cientistas, filósofos e grandes pensadores têm reiterado essa intrigante afirmação de que o observador é a coisa observada. Esta asserção nos coloca diante das seguintes questões: O que observo em mim que é o meu eu?  E o que observo que não é?
Principiamos conceituando o que é o eu. Para desenvolver esta reflexão definiremos o eu como uma estrutura composta por um soma e uma psique. Se dirigirmos nossa observação para a parte somática do eu, entendemos que sem dúvida ela é parte integrante da estrutura do eu. É a parte física do nosso eu. Assim sendo, não há necessidade de maiores considerações sobre esse lado da questão.
Na psique, entre outras coisas, podemos observar nossas capacidades/faculdades, tais como a faculdade de entender, de compreender, de refletir, de pensar, de sentir, etc. Ao observarmos a atuação dessas capacidades/faculdades podemos, sucintamente, concluir que são parte da estrutura do eu? Compreendemos que sim. E por quê?  Porque ninguém reflexiona com a faculdade de refletir de outrem. Podemos até manifestar uma reflexão de outra pessoa, mas não refletimos com a faculdade alheia. E, sem dúvida, esta compreensão é extensiva as demais capacidades/faculdades.
Também encontramos na psique pensamentos e sentimentos. E quanto a estes, ao observarmos suas ações, o que podemos concluir? Eles integram a estrutura do eu que está se observando? Ou eles são apenas um apêndice na mente do auto-observador e não propriamente uma parte estrutural do eu? Os pensamentos e os sentimentos continuam sendo, para nós, parte crucial na compreensão da afirmação de que o observador é a coisa observada.
Vamos tentar esmiuçar um pouco mais a questão dos pensamentos e dos sentimentos observados em nós mesmos. Quando experimentamos uma manifestação de raiva, de inveja ou de compaixão, por exemplo, como essa ação é percebida? É uma manifestação da estrutura do próprio eu ou é algo que está ali (na psique) a disposição desse eu? Ou seja, nós somos essa raiva, nós somos essa inveja, nós somos essa compaixão, ou elas são algo do não eu?  Compreender essa questão julgamos ser de grande valia quando pensamos em nos superarmos. Assim, para deixarmos de ser ou para sermos algo que ainda não somos, é necessário enfrentarmos essa questão. E esse enfrentamento, pensamos que requer ações diferentes para as hipóteses apresentadas.
Sabemos que estes questionamentos não são fáceis de aclarar. Mas, possivelmente, devemos começar por reconhecer qual a nossa visão de mundo. No dizer de Humberto Mariotti: “O mundo em que vivemos é o que construímos a partir de nossas percepções. Por conseguinte, nosso mundo é a nossa visão de mundo. Se a realidade que percebemos depende da nossa estrutura – que é individual –, existem tantas realidades quantas pessoas percebedoras”.
Desse modo, se a visão de mundo do observador é a do Universo cartesiano, onde este (observador) não passa de um mero figurante, é claro que os pensamentos e os sentimentos serão compreendidos como algo do não eu. De outro modo, se a visão de mundo do observador tem por base as novas teorias da física moderna (as teorias quânticas), então os pensamentos e os sentimentos serão compreendidos como algo próprio do eu. Ou seja, o observador não é separado daquilo que observa.
Ufa! Vou me deitar aqui numa rede na “Ilha de Pala” e aguardar as compreensões dos palaneses. Enquanto isso, para amainar o abrasamento nos poucos neurônios que eu ainda não cedi para o alemão (Alzheimer), fico ancorado nos dizeres do Marcelo Gleiser:
– “Teorias surgem quando as existentes não explicam novas descobertas.”...aprendemos que é loucura levar nossa visão de mundo muito a sério, pois sem dúvida ela vai mudar. É bom tomarmos nossas certezas com muita humildade”.
Atenção! Aqui é agora!
Atenção para a auto-observação!...


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