Roberto Lira
Nós, seres humanos, em certa etapa da vida ou das vidas (para alguns) enveredamos a procura de um lugar onde a felicidade seja plena e permanente. Esse lugar que para alguns pode ser alcançada ainda em vida, enquanto que para outros só após morte, é mencionado com as mais variadas denominações. Para muitos ele é o céu ou paraíso, para outros o nirvana, ainda, para outros o mundo mental, transcendente ou metafísico, et cetera. Como a palavra não é a coisa, resolvemos chamá-lo de “a outra margem do rio”.
Frente à hipótese de que alguns seres alcançaram a outra margem do rio, não é nosso propósito contestar ou aceitar essa possibilidade. Também não é propósito desta escrevinhação desprezar os ismos ou métodos tradicionais que propõe tal realização. Nosso objetivo é estimular aqueles que estejam interessados em refletir e compartilhar suas compreensões sobre essa questão.
Para atingir a outra margem do rio, a humanidade foi criando ismos, filosofias e métodos que lhe oportunizasse alcançar esse almejado lugar. O anseio interior por este objetivo surge na consciência do ser humano, cedo ou tarde, por vezes de modo inexplicável. As questões que surgem nessa reflexão são: para aqueles cujas tentativas de chegar à outra margem do rio pelos caminhos da tradição foram infrutíferas, haverá algum outro modo diferente dos tradicionais a ser tentado? Há alguma possibilidade de atingirmos a referida margem sem estarmos vinculado a instituições ou dependente de qualquer “autoridade”?
O filósofo indiano Jiddu Krishnamurti (JK) palestrou por mais de meio século apresentando uma proposta inusitada para essa questão. Ele conduzia suas palestras convidando os seus ouvintes a encontrarem dentro de si mesmo os meios para esta realização. Ele insistia na tese de que ao mantermos uma atenção passiva em nossos relacionamentos nosso cérebro/mente poderá sofrer uma transformação radical e assim estabelecer contato com a mente universal. Para ele essa atenção passiva se configura como uma atitude onde devemos excluir, nos nossos relacionamentos, qualquer imagem psicológica que tenhamos construído sobre o outro. Ou seja, devemos nos relacionar sem a lente obtida em experiências passadas, vendo o outro como ele se apresenta no momento presente, no aqui e agora. Essa conduta proposta por JK está implícita nos estudos cibernéticos de segunda ordem, que trata da relação entre os sistemas observadores e os sistemas observados (ele é reconhecido como um dos pioneiros nessas investigações, embora não empregasse os temos dessa ciência).
Baseado na proposição de JK, que sinteticamente é sustentada pela possibilidade de que nos mesmos e que devemos encontrar os meios para alcançar a outra margem do rio, introduzimos nesta reflexão a lembrança daquela brincadeira das “Olimpíadas do Faustão”, da rede Globo, chamada “Pedra Maldita” – onde o participante deve atravessar um rio (no caso uma piscina) pisando em várias pedras, tomando cuidado com as falsas, que afundam quando se pisa nelas. Essa brincadeira faz-nos lembrar de nossas frustradas tentativas, sempre pisando em pedras que se não são falsas até agora não nos levaram a alcançar a outra margem do rio.
Associando a proposta de JK e a imagem das “Pedras Malditas”, surge-nos o analogismo que nossos relacionamentos são as pedras no leito do rio da vida, nas quais temos que nos apoiar para alcançar a outra margem do rio. Assim, devemos caminhar descobrindo como nos apoiar nas “pedras” e esse descobrimento dispensa a base das vivencias psicológicos já experimentadas com o outro. Ou seja, devemos observar cada ação/reação durante a relação como observamos o fluir dos ventos sobre a superfície da água, como observamos o ir e vir das ondas no mar, como observamos os redemoinhos e as corredeiras dos rios, situações onde os conceitos prévios são desnecessários e mais que isso as experiências passadas são um obstáculo para observar o fato real.
Pensamos que essa nova abordagem talvez possa nos proporcionar insigths sobre esse almejado lugar, o que já seria uma grande realização. E quem sabe esses insigths possam nos levar, DE FATO, a alcançar a outra margem do rio??????
Atenção! Aqui e agora!