Roberto Lira
Partindo do pressuposto que o ser humano se constrói, fundamentalmente, a partir dos seus relacionamentos surge à questão norteadora desta escrevinhação: como nos relacionamos?
Antes, de mais nada, devemos esclarecer que a palavra relacionamento para nós é estar em contato, estabelecer relação com, não só fisicamente, presencialmente, mas também mentalmente. Desse modo, há relacionamentos entre pessoas: marido e mulher, pais e filhos, conhecidos e desconhecidos, amigos e inimigos, etc. e etc. Os relacionamentos podem ser superficiais ou profundos. Nestes, que entendemos como genuínos, as pessoas se encontram no mesmo nível, com a mesma intensidade, com a mesma energia, ou seja, há o que podemos chamar de um relacionamento real, verdadeiro. Há, também, os relacionamentos entre pessoas e objetos/animais, mas este tipo de relacionamento não vem ao caso no momento.
Seguindo a questão norteadora, como ocorrem os nossos relacionamentos? Eles se baseiam na memória que temos do outro, no conhecimento que adquirimos em relacionamentos anteriores? Ou seja, nossos relacionamentos se baseiam na imagem que formamos do outro e que os outros formam sobre nós? Assim sendo, não seriam relacionamentos entre imagens e não entre os verdadeiros indivíduos?
Quando observarmos atentamente nossos relacionamentos, percebemos o surgimento de conflitos desnecessários e concordâncias injustificadas e/ou favorecidas. Não seriam estes frutos de estarmos a nos relacionar através das imagens construídas no passado, às vezes boas outras vezes más, e não nas vivências reais, no presente, aqui e agora?
Essa nossa propensão de nos relacionarmos através de imagens, ou seja, de preconceitos (conceitos formados previamente) é muito mais intrincada do que parece. Vejamos: além da imagem que formamos do outro pela convivência ou por referências, acrescente-se a isso os rótulos divisionistas que nos damos. Sou brasileiro o outro é suíço, sou cristão o outro é muçulmano, sou pobre o outro é rico, sou erudito o outro é ignorante, sou corintiano o outro é palmeirense, sou petista o outro é tucano, etc. e etc. É natural que quando há divisão entre as pessoas há conflito. É possível nos relacionarmos sem conflito?
Que tipo de ser humano estamos construindo (construção de nos mesmos) gestadas nos relacionamentos através das imagens? É possível olharmos para o outro como ele se apresenta a cada momento, ou seja, sem a interferência do passado? Desse modo, nossos relacionamentos seriam reais e não imaginários? De modo contrário, nos relacionando através da imaginação (capacidade de evocar imagens anteriormente percebidas), não estaríamos construindo um ser, também, imaginário?
Percebermo-nos, diretamente, nos nossos relacionamentos é o que estamos a refletir, tema que não deixa de ser uma continuidade da reflexão das nossas últimas escrevinhações (autoconhecimento). Nessa continuidade, o presente entendimento é que para construirmos/reconstruirmos a nos mesmo é necessário, além da argila interior, própria, contarmos com o compartilhamento das reflexões sobre o tema para melhor prepararmos a argamassa que dará sustentabilidade à nossa construção.
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