Roberto Lira
A manifestação viver no aqui e no agora tem se tornado lugar-comum nos tempos atuais. Mas, nos parece que poucos de fato têm consciência quão transcendente pode ser esta frase. Desse modo, o que podemos entender por viver aqui e agora?
Do ponto de vista sintático, o verbo viver – que exerce a função nuclear do predicado da sentença – é primariamente conceituado de ter vida, estar com vida. Os advérbios aqui e agora completam a sentença e situa o verbo viver nas dimensões de espaço (o aqui) e tempo (o agora).
Do ponto de vista transcendente, e prático, entendemos que viver aqui e agora é uma circunstância que o percebimento de um fato e a ação dele decorrente dispensa o passado, o futuro e o alhures e nos atém exclusivamente na realidade presente. Ou seja, é aquilo que vivenciamos sem a interferência de recordações, ideações e no local onde o fato é circunstanciado.
As recordações nos remetem as reminiscências do já vivido, de algo que já se extinguiu e que não tem mais vida. As ideações, por seu lado, nos projetam para o futuro que é o vir a ser ou o viver no mundo hipotético do “se”. Por outro lado, trazermos o que está além, distante, para a circunstância que se está vivendo é desfigurar a realidade que de fato se apresenta. Tendo em vista essas premissas, ousamos listar algumas ações que nos parece apropriadas para se viver aqui e agora de forma transcendente:
· Agirmos livre dos condicionamentos que nos faz subordinados aos determinismos ideológicos (políticos/religiosos), moralistas ou egoístas;
· Reagirmos focalizando nossa percepção na realidade que se apresenta a cada momento;
· Assimilarmos a realidade que se apresenta sem pré-julgamentos ou idiossincrasias (a auto-atenção passiva talvez nos conduza a essa realização);
· Mantermo-nos em permanente processo de aprendizagem nas nossas vivências, mesmo naquelas que nos parecem familiar ou que consideramos já aprendidas.
Viver aqui e agora, NÃO sendo uma realidade estática, requer dinamismo e muita energia para acompanharmos, momento a momento, cada uma das nossas vivências. As ocorrências no nosso viver, do ponto de vista da impermanência, podem ser sintetizadas no aforismo de Heráclito: “Não podemos banhar-nos duas vezes no mesmo rio, porque o rio nunca é o mesmo e nós nunca somos os mesmos”.
Atenção! Aqui e agora!
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